Muitas pessoas acreditam que os “cuidados de saúde” envolvem basicamente ir ao médico e manter uma rotina saudável. E, de fato, esses dois itens fazem parte de uma vida com mais saúde, mas não é só isso. A promoção de saúde é um conceito amplo, que envolve melhor acesso aos serviços de saúde, renda adequada, melhores condições de moradia, educação de qualidade, mais oportunidades de emprego, além de água e ar limpos.
Neste Dia Mundial da Saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chama atenção para que todos esses aspectos citados sejam acessíveis a todos. Sem essas condições, segundo a organização, as populações podem passar por um sofrimento desnecessário, doenças evitáveis e morte prematura. Sem contar os prejuízos para as sociedades e economias.
De acordo com Thiago Gomes, médico de família e comunidade, além de diretor da Associação Paulista de Medicina de Família e Comunidade (APMFC), cuidar da saúde não é uma preocupação que deve aparecer apenas quando a pessoa está doente. É preciso pensar, cada vez mais, na saúde integrada. Mas o que isso significa?
“É um cuidado com uma visão global da pessoa. É tratá-la desde a parte física, biológica, até os conceitos de emoções e o lado psicológico”, explica o especialista. “Aliás, o adoecimento pode trazer impactos financeiros e outras limitações. Nós também devemos olhar para isso”, diz.
O que faz um médico da família e qual sua importância?
Os médicos de família e comunidade possuem esse olhar treinado, de todos ângulos, para o paciente. Isso envolve parceiros (as), filhos (as), pais, entre outros membros. “Esse especialista é um grande gestor de recursos, inclusive, do tempo. Podemos ajudar a família a organizar melhor o tempo para praticar atividade física, por exemplo.”
O time médico não está preocupado apenas com uma possível doença, mas acompanha prováveis causas que podem ser relacionadas até mesmo ao ambiente doméstico. Importante salientar que este trabalho é sempre feito com uma equipe multidisciplinar de profissionais, como o enfermeiro por exemplo, que tem um papel fundamental na educação da saúde do paciente;
Ainda segundo Gomes, o especialista dessa área oferece todo o suporte para a família ou para o indivíduo em si, nunca perdendo de vista o contexto da vida dele para entender determinadas situações – se ele tem depressão, por exemplo, é importante dar orientação de outras especialidades, oferecer escuta e entender as causas, incluindo se outras pessoas da família estão passando pelo mesmo.
Quais os passos para uma vida mais saudável?
Além dos conceitos citados pela OMS, a receita geral não costuma mudar. São os já conhecidos pilares que envolvem os seguintes tópicos:
- ter alimentação com dieta equilibrada;
- praticar atividade física – principalmente se você ficou sedentário na pandemia;
- ter sono de qualidade;
- manter-se hidratado;
- cuidar da saúde mental;
- ter uma boa vida social;
- evitar tabagismo e excesso de consumo de álcool.
Todos esses fatores contribuem para a longevidade. De acordo com o diretor da APMFC, existem regiões conhecidas pelas populações mais longevas, as chamadas “blue zones” – e podemos aprender muito com elas. Os locais apresentam uma alta taxa de pessoas com mais de 90 anos, que têm autonomia, com baixos índices de doenças crônicas e limitações.
“No geral, são populações que levam uma vida mais leve, no sentido de ter menos estresse, maior cuidado com saúde mental, além de incluir uma vida social ativa, nem que seja em grupos de igreja ou de futebol”, explica o médico.
Algumas regiões que possuem essas características são Loma Linda, na Califórnia, nos Estados Unidos, Ogliastra, na Sardenha, na Itália, Okinawa, no Japão, a península de Nicoya, na Costa Rica, e a ilha de Ikaria, na Grécia. Mas qual o segredo desses locais? Os conceitos de blue zones envolvem:
- se movimentar de “forma natural”, ou seja, realizar qualquer atividade física, mesmo que uma caminhada rápida ao redor da casa;
- ter um propósito na vida para levantar todo dia da cama;
- comer de forma balanceada (regra dos 80%: comer até que se esteja 80% satisfeito e parar antes de ficar saciado);
- diminuir consumo de carne;
- reduzir ingestão de álcool;
- ter fé ou acreditar em algo, seja qual for a crença.
- cultivar o amor, principalmente o da família;
- manter um convívio social com a comunidade.