Pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) revelou que o número de casos de depressão quase dobrou após o surto do coronavírus, enquanto os de ansiedade e estresse aumentaram 80%.
“O distanciamento social pode servir de gatilho para diferentes panoramas: pessoas que nunca tiveram quadros psiquiátricos podem vir a ter; pessoas que já tiveram quadros psiquiátricos e que estavam controlados podem apresentar recaídas; e pacientes que estão em tratamento psiquiátrico podem apresentar alterações na evolução positiva que estavam tendo com o tratamento”, diz Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e da Associação Psiquiátrica da América Latina (APAL). “Portanto, temos que prestar atenção nesses três pontos.”
Um artigo recente publicado na revista The Lancet aponta ainda que a carga psicossocial da COVID-19 se torna cada vez mais evidente com o passar dos meses, à medida que os reflexos não apenas do distanciamento físico, mas também da morte de amigos e familiares e da perda de emprego se manifestam.
É fato que a maioria das pessoas é resiliente e consegue atravessar fases críticas sem sofrimento psíquico a ponto de paralisá-las ou levá-las a problemas agudos de saúde.
No entanto, não é incomum ficar emocionalmente vulnerável em um momento de emergência sanitária como o que o mundo atravessa. Por isso, fique atento a sinais que sugerem que o cenário proposto pela COVID-19 está afetando a sua saúde mental ou de alguém próximo a você, mais do que imagina. Mudanças agudas de comportamento indicam a necessidade de ajuda profissional.
Alerta para exageros
Relações familiares se deteriorando e funcionamento das tarefas cotidianas comprometidos são indícios de falta de estabilidade.
Esses comportamentos podem se manifestar por intransigência ou impaciência desmedida com os filhos, insônia persistente, procrastinação de compromissos profissionais ou desânimo intenso, entre outras reações. Quando a taça de vinho se torna uma garrafa frequentemente, também vale a pena ficar atento: o abuso de álcool é, muitas vezes, resposta à dificuldade de gerenciar emoções.
Outros sintomas que pedem apoio profissional tratam-se do medo e ansiedade exacerbados. “São fatores associados à pandemia que interferem no surgimento de transtornos psiquiátricos”, explica o presidente da ABP. “Temos percebido, principalmente, três aspectos: o medo de se contaminar com a COVID-19, o medo de vir a óbito por causa dela e a ansiedade pelo futuro: como ficará o meu emprego, a economia, a volta às aulas, o retorno às atividades ao ar livre?”
Dicas de equilíbrio
Psicólogos e psiquiatras sublinham a importância de manter a rotina de compromissos durante o confinamento, com as necessárias adaptações. “Devemos ter horários regulares para acordar, dormir, trabalhar, descansar e fazer atividades físicas, sem permitir excessos”, afirma Antônio Geraldo da Silva.
Veja outras recomendações da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Rotina organizada: defina seus horários e mantenha os rituais do dia a dia. Sente-se à mesa para o café da manhã, almoço e jantar. Esteja pronto para iniciar o trabalho em um ambiente apropriado e comporte-se como se estivesse em seu local de trabalho convencional.
Alimentação e exercícios físicos: opte por itens saudáveis e fuja das tentações. Situações de estresse podem provocar aumento de apetite por alimentos como doces e massas. Faça exercícios físicos; meditação e alongamento também ajudam.
Descanso: é fundamental ter um padrão de descanso, mesmo sem sair de casa. Distraia-se, reserve tempo para dar atenção à família e amigos, ainda que seja pela internet, veja um filme, cuide das plantas.
Precisa de ajuda?
O conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou o atendimento online a pacientes. Se precisar de ajuda, lance mão desse recurso para buscar um profissional de saúde. Caso conheça alguém que necessite de apoio de psicólogo ou psiquiatra, incentive-o a procurar esse auxílio. Existem, inclusive, diversos grupos que atendem gratuitamente a distância, como o Psicologia Solidária COVID-19 – (contato pelo e-mail psicologiasolidaria.covid19@gmail.com).