A crise econômica decorrente da pandemia da covid-19 impactou negócios no Brasil inteiro, mas teve um peso ainda maior no empreendedorismo feminino. O levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) aponta redução na proporção de mulheres empreendendo. No terceiro trimestre de 2020, o Brasil tinha 25,6 milhões de donos de empresas. Desse número, 8,6 milhões são mulheres (33,6%) e 17 milhões são homens (66,4%).
Outro estudo realizado pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que 52% das micro e pequenas empresas chefiadas por mulheres tiveram que fechar ou paralisar temporariamente as atividades durante a pandemia. Entre os homens do mesmo segmento, o percentual chegou a 47%.
Os resultados refletem algo que ficou escancarado com a pandemia: a desigualdade de gênero. Com o fechamento das escolas e o home office, as mulheres tiveram que assumir a responsabilidade das crianças em tempo integral, junto com as tarefas domésticas e as atividades profissionais.
A situação, que já era precária antes da pandemia, impediu que elas pudessem dedicar mais tempo aos negócios. De acordo com o Sebrae, 59% das mulheres empreendedoras trabalham menos de 40 horas semanais no próprio negócio.
Empreendedorismo feminino e a busca pela reinvenção
Diante o cenário catastrófico que se formou com a pandemia da covid-19, muitos setores, como eventos, comércio e turismo, tiveram que parar e ainda não há previsão de retorno pleno das atividades.
Especialistas em empreendedorismo concordam que o grande desafio em meio à crise foi a reinvenção do negócio. “As mulheres tiveram que mudar de vida e de profissão. Precisaram se profissionalizar para melhorar o que elas já faziam, ou criar um novo negócio, uma nova renda”, diz Ana Cláudia Badra Cotait, presidente do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Dados de uma pesquisa realizada pelo Sebrae e FGV indicam que as mulheres empreendedoras tiveram mais agilidade e competência para implementar inovações em seus negócios em 2020. Segundo o levantamento, 71% utilizam as redes sociais, aplicativos e a internet para vender os seus produtos. O percentual de homens que usam essas ferramentas é de 63%.
As mulheres também aparecem em vantagem no uso do delivery. A modalidade de entrega é utilizada em 19% dos empreendimentos femininos e em 14% dos negócios administrados por homens.
O estudo ainda mostrou que 11% das mulheres empreendedoras inovaram na oferta dos seus produtos e serviços. Por outro lado, apenas 7% dos homens implementaram mudanças nos negócios.
Marcia Giubertoni, consultora do Sebrae/PR, avalia que as mulheres são mais cautelosas, buscam mais conhecimento que os homens e por isso tiveram condições de implementar mudanças e reverter a situação do próprio negócio.
“Eu tenho até um exemplo daqui de Curitiba, de uma agência de eventos. Como já tem um ano que não acontecem eventos, uma empresária do setor percebeu o crescimento da logística e das entregas. Ela tinha uma moto e uma rede de mulheres que possuíam meios de locomoção, então essa empreendedora montou um negócio de entregas exclusivo feito por mulheres chamado Única Entrega”, conta.
De acordo com Giubertoni, a empresária conseguiu, por meio da rede de contatos, enxergar uma oportunidade de negócio. “Ela não reinventou a forma de fazer eventos, mas viu o que tinha à disposição e aproveitou. Por mais que seja um momento de extrema dificuldade, ainda assim, na dificuldade, podemos encontrar oportunidades”, afirma.
Como ter sucesso nos negócios
Muitas mulheres buscam o empreendedorismo pela necessidade de prover o próprio sustento e da família. Além disso, é um caminho fundamental para ser independente. “Eu acho que o principal foco é a geração de renda e a independência. O empreendedorismo feminino dá à mulher a liberdade de ir e vir”, destaca Cotait.
No entanto, para que o negócio prospere é necessário ter alguns cuidados. Giubertoni, consultora do Sebrae/PR, diz que é importante avaliar se a empreendedora já tem algo a oferecer e se as pessoas realmente precisam do produto ou serviço.
“Ela também pode olhar de forma contrária e encontrar um problema que precisa ser resolvido. Geralmente, onde tem uma dificuldade, há dinheiro. Se você resolver a adversidade que é comum para várias pessoas, você começa a ganhar dinheiro. Então, eu acho que são duas dicas: fazer algo bem e o mercado está procurando isso, ou procurar um problema existente para solucionar de alguma forma”, argumenta.
O movimento seguinte, de acordo com Giubertoni, é estruturar sua ideia de negócio em uma folha de papel no método chamado Canva. “Você vai escrever qual será a sua proposta de valor, o que vai te diferenciar dos outros que estão ali, quem é o seu cliente, como é que você vai chegar até ele e como será esse relacionamento”, diz.
O ideal é começar com passos pequenos, vender seu produto ou oferecer o serviço para a sua rede de contatos por meio do whatsapp e redes sociais. Assim, é possível conhecer o mercado que a empreendedora pretende se inserir, validar a ideia com as pessoas e sempre buscar opiniões, avaliações e comentários dos clientes para melhorar a ideia.
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