Sintomas de um ataque cardíaco em mulheres podem passar despercebidos, o que provoca atraso na busca por socorro médico.
A razão é que elas nem sempre apresentam sinais típicos como dor no peito que irradia para os braços, como é o caso de homens. Mulheres podem ter náusea, vômito, tontura, cansaço, dor nas costas, fraqueza, ardência na pele e até dor na mandíbula ou no pescoço. Tudo isso pode ser confundido com muitas outras doenças, certo?
Identificar os sintomas pode significar salvar a vida de uma pessoa infartada. Por isso, médicos alertam para que se procure atendimento rapidamente a fim de descartar riscos de um ataque cardíaco. A demora às vezes é fatal.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), doenças cardiovasculares correspondem a 30% do total mundial de mortes ao ano, o equivalente a cerca de 15 milhões. Entre as mulheres, as cardiopatias são a principal causa de óbito – em primeiro lugar, o AVC (Acidente Vascular Cerebral) e em segundo, o infarto.
“Estudo feito a partir dos dados da plataforma online Estatística Cardiovascular Brasil: 2020, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mostrou que a predominância de doenças cardiovasculares é muito maior nas mulheres entre 15 e 49 anos e que vêm aumentando as mortes por doenças isquêmicas, como o infarto do miocárdio, nas mais jovens”, diz Glaucia Maria Moraes de Oliveira, coordenadora de Acompanhamento da Gestão e Controle Interno da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
A especialista revela que a prevalência de infarto em mulheres está aumentando. Segundo relatório de 2021 da Associação Americana de Cardiologia, a sobrevida depois do infarto é de 8,2 anos para homens e apenas 5,5 anos para mulheres. “Elas sobrevivem menos tempo”, afirma Glaucia. “Nos indivíduos que infartaram, a porcentagem de ser recorrente é de 17% para homens e 21% para mulheres, e são as jovens que necessitam da nossa atenção”, completa.
Coração e fatores de risco
A médica explica que o coração da mulher é ligeiramente menor do que o do homem (cerca de dois terços do tamanho) e sua fisiologia é um tanto diferente. “Pesquisas já atestaram que as frequências cardíacas médias, por exemplo, são mais aceleradas no sexo feminino”, esclarece Glaucia. As mulheres também têm artérias coronárias mais finas e maior tendência a sofrer com bloqueios não apenas nas artérias principais, mas também nas menores, que fornecem sangue ao coração. “Por isso, quando infartam, descrevem a dor no peito como uma pressão ou aperto, e não como uma dor lancinante.”
Sejam mulheres ou homens, os principais inimigos do coração são tabagismo, obesidade, hipertensão, excesso de estresse, níveis altos de colesterol e glicose. Segundo o Ministério da Saúde, diabéticos têm de duas a quatro vezes mais chances de sofrer um infarto.
“As mulheres são conhecidas por terem dupla e até tripla jornada, ao se dividirem entre o trabalho, cuidado com os filhos e afazeres domésticos. Isso eleva o estresse, associado, muitas vezes, à falta de atividade física, má alimentação, tabagismo e consumo excessivo de bebidas alcoólicas”, diz a especialista da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Sinais parecidos, causas diferentes
Transtornos de ansiedade não raro são confundidos com problemas cardíacos. Afinal, uma pessoa em crise de pânico também sente dor no peito, palpitação, sudorese e náusea.
Isso acontece porque a ansiedade afeta a produção hormonal. A maior quantidade dos hormônios adrenalina e noradrenalina provoca sinais parecidos aos do infarto do miocárdio.
No entanto, médicos ressaltam que a dor gerada pelo pânico pode ser inespecífica; já a do infarto geralmente ocorre no peito, como se fosse um aperto, podendo irradiar pelo braço, pescoço e costas. Ainda assim, é importante pedir ajuda médica em virtude das semelhanças de sintomas.
A ansiedade também tem sido um dos impactos do contexto atual de crise sanitária. O estudo Covid-19 and Mental Health in Brazil: Psychiatric Symptoms in the General Population, publicado na revista Journal of Psychiatric Research, apontou que a população brasileira tornou-se mais ansiosa na pandemia.
Qualquer que seja o caso, transtorno de ansiedade ou infarto, o profissional de saúde tem condições de encaminhar o paciente para o tratamento adequado, o quanto antes. A redução da ansiedade também é importante para evitar riscos de desenvolver doenças cardíacas.