Dia cinco de dezembro comemora-se o Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade, uma área da medicina especializada em cuidar das pessoas de forma integral ao longo de suas vidas.
A especialidade foi oficialmente reconhecida pela Associação Médica Brasileira (AMB) em 2002 e hoje é considerada uma das mais importantes áreas de atuação médica dentro da Atenção Primária à Saúde tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) – com a Estratégia de Saúde à Família – como no sistema suplementar de saúde.
Mas como é a atuação desse especialista?
A Medicina de Família e Comunidade cuida das pessoas em todas as etapas da vida – o que inclui recém-nascidos, crianças, adultos, gestantes e idosos. O foco é no paciente e suas queixas; mas a consulta também leva em conta sua história de vida, condição socioeconômica e realidade. Esse especialista, portanto, está capacitado a atender demandas gerais de saúde e observar de forma individual como o contexto de cada paciente influencia no quadro geral.
E, diferente de um médico generalista, que termina a faculdade de Medicina, mas não passa pela residência ou especialização, a Medicina de Família requer que o profissional passe por uma residência de dois anos ou prova de especialização para poder atuar no mercado.
Trabalhando como especialista dessa área há 16 anos, a médica de família e comunidade Elsi de Carvalho Oliveira, da Seguros Unimed, acredita que a profissão está em destaque nos dias atuais. “Os gestores estão enxergando que basear os cuidados médicos na atenção primária e na atuação do médico de família é mais sustentável do que focar em especialistas”, acredita.
Segundo ela, o sistema ideal seria aquele em que a atenção primária resolvesse de 80% a 90% das queixas de saúde dos pacientes; a atenção secundária (com a ação de especialistas focados), cerca de 10% a 15%; e, por fim, a atenção terciária (que inclui cirurgias, internação etc.) ficaria com 5% desses atendimentos.
“Dessa forma, os atendimentos mais onerosos, com especialistas, seriam encaminhados apenas quando fosse necessário, reduzindo os gastos e tornando o sistema de saúde mais sustentável”, avalia a médica.
As vantagens de se consultar com um médico de família
De acordo com Oliveira, além de desonerar os sistemas de saúde, a atenção primária feita com o médico de família gerencia o cuidado com a saúde do paciente de forma global, estabelecendo uma relação de proximidade e confiança.
“Isso faz com que o indivíduo siga com mais disciplina o tratamento e ainda facilita as ações de prevenção, resultando em menos internações e, novamente, menos gastos para o sistema de saúde”, explica a médica.
Desafios da profissão
Se, por um lado, as vantagens do médico de família são muitas e já comprovadas, por outro, a especialização ainda enfrenta barreiras culturais para se tornar mais popular no Brasil. “O brasileiro tem a cultura de procurar sempre um especialista focal quando tem algum problema de saúde”, acredita Oliveira, que percebe uma preferência por esse tipo de atendimento especialmente nas classes mais altas. “Há uma busca por ‘superespecialistas‘”, avalia.
Este parece ser o maior desafio da profissão: trazer o paciente para a atenção primária e convencê-lo de que a atuação do médico de família vai melhorar os cuidados gerais com a saúde. “É uma barreira cultural muito forte no Brasil”, diz. “No entanto, quando o paciente encontra o médico de família, percebe que vai ser melhor para ele e para a saúde dele.”
Em grande parte, é justamente a relação de confiança estabelecida que provoca esse ganho, já que torna o atendimento e o cuidado mais humanos e empáticos. “Eu brinco que somos especialistas em gente, é o que fazemos: criamos um vínculo, trazemos o paciente para dentro da própria saúde e conseguimos, assim, fazer com que ele confie nas nossas orientações”, avalia.
No entanto, mesmo com as dificuldades, Elsi acredita que a medicina de família vai se tornar cada vez mais importante nos próximos anos. “Vejo o mercado bastante aquecido atualmente e cada vez mais espaço para a nossa atuação”, afirma.