Era uma manhã de domingo em Gotenburgo, na Suécia, no dia 15 de junho de 1958. O time do Brasil acordava para mais tarde entrar em campo para o terceiro e decisivo jogo da fase de classificação da Copa do Mundo. No quadro de avisos da concentração brasileira na Suécia, o técnico Vicente Feola anunciava as mudanças que aconteceriam na equipe.
José Eli de Miranda, o Zito, soube ali, no quadro negro, que ocuparia a vaga de Dino Sani, então titular do time como um primeiro volante, à frente dos zagueiros. Com 25 anos de idade, o jogador entraria ao lado de Pelé e Garrincha na equipe, com a ideia de melhorar o desempenho brasileiro.
A partir daquele jogo, Zito passou a ser o comandante do time na arrancada rumo ao inédito título mundial e, quatro anos depois, ao bicampeonato. Numa época em que não havia a braçadeira de capitão, provavelmente caberia a ele o posto de líder do time.
Hoje, 56 anos depois de conquistar o mundo pela primeira vez, Zito recorda que o espírito de liderança fazia com que ele e Didi, os dois jogadores do meio-campo brasileiro, se tornassem uma espécie de representante do técnico Feola (e, depois, de Aymoré Moreira), no campo.
“Eu e o Didi tínhamos de falar com os mais jovens, tínhamos essa incumbência”, afirmou Zito, durante conversa no Memorial de Conquistas do Santos, onde recebeu o Blog da Seguros. Leia a seguir trechos da entrevista que eu e o repórter Fernando Camargo fizemos com o primeiro grande líder da seleção brasileira bicampeã do mundo.
Blog da Seguros: O que o senhor sentiu ao ver seu nome na lista de titulares contra a União Soviética?
Zito: Naquela época a relação entre o treinador e os jogadores era muito diferente. Não tínhamos muito contato individual, o técnico quase sempre conversava com o grupo. Eu mesmo fiquei sabendo que jogaria ao ver o quadro de avisos no dia da partida…
Blog da Seguros: E como foi estrear naquele time junto com Garrincha e Pelé, que eram quase os caçulas? Quem assumiu a liderança da equipe?
Zito: Olha, o Vicente Feola sempre dizia que tínhamos de sempre procurar conversar com os jogadores mais jovens. Apesar de iniciar o campeonato na reserva, eu sempre fazia isso. Era assim desde o começo. Depois, junto com o Didi no meio-campo, nós tínhamos essa incumbência, de sempre conversar com os “meninos”. E, olha, todos os jogadores escutavam, viu?
Blog da Seguros: O senhor tinha um comportamento curioso. Era aquele jogador que, nos momentos difíceis, colocava a bola debaixo do braço e acalmava o time. Por que esse comportamento?
Zito: (gesticulando e sorrindo) Ah, não tem segredo. Você caminha devagarinho, olha para os lados, que é para acalmar todo mundo… E acabava sempre dando certo!
BS: Naquela época, os zagueiros tinham ordem para subir ao ataque ou tinham que ficar mais na retaguarda?
Zito: A ordem era aquilo que eu dava para eles dentro de campo. A gente falava muito, o tempo todo. “Vai, sobe!” . “Não, eu fico, pode ir”. O negócio era ir gritando e orientando da melhor forma possível os jogadores.
BS: Qual foi o grande segredo do time para a conquista de 58?
Zito: A grande mudança foi que tivemos, realmente, uma comissão técnica. Antes, era tudo meio largado. A comissão técnica exigia disciplina e a busca pelo resultado, que era o título.
BS: Um dos diferencias do Brasil foi a solidez defensiva daquele time. Como o senhor analisa os jogadores de hoje no setor?
Zito: Acho que o Felipão está no caminho certo. São bons meninos, que passam confiança. O Brasil tem tudo para ir muito bem.
Fonte Foto: http://www.arquivoestado.sp.gov.br/iconografico/galeria/direita.php?imagem=7.jpg&pesquisa=futebol