Após alguns dias da declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que estávamos vivendo uma pandemia, as escolas por todo o Brasil fecharam as portas e fizeram o que era possível para manter os alunos estudando. Hoje, 10 meses sem aulas presenciais depois (contando com as férias letivas: Julho, Dezembro e Janeiro), algumas escolas se preparam gradualmente para voltar com as aulas presenciais. Em dois estados a volta às aulas foi planejada para ser em janeiro. Em 13 estados, fevereiro; em seis , março e seis estados ainda não estipularam datas para o retorno das aulas presenciais.
A grande preocupação é com o aumento recente do número de casos e de internações ao redor do país, no entanto essa preocupação não é com os alunos. As crianças , os adolescentes costumam ter uma manifestação clínica muito mais tranquila, uma menor gravidade da doença. Não que não existam quadros graves, mas a chance de isso acontecer na pediatria é muitas vezes menor que no adulto e principalmente no idoso. “Então a preocupação não é tanto em relação à doença. A preocupação maior em relação às crianças é a possibilidade de elas transmitirem a doença para outras pessoas”, afirma Marcelo Otsuka, infectologista pediátrico membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Devido a essa preocupação, para que haja uma volta segura, cada escola precisa ter uma análise interna, individualizada, de como deverá ser o ensino presencial. Outra coisa que precisa ser analisada, segundo Marcelo, é a maneira como esse aluno vai da casa para a escola e da escola para casa, visto que a grande maioria depende dos transportes públicos. “A gente tem que entender que o ideal é que tenha no máximo 30% de ocupação no próprio ônibus, trem e etc.”, completa.
Outro ponto importante para a volta às aulas é a preparação. Para Marcelo a escola tem de estar preparada para receber os alunos, preparada com barreiras físicas, com máscaras adequadas, com distanciamento, com papel higiênico e sabonete nos banheiros. “O retorno das aulas precisa obrigatoriamente ter uma escola preparada com equipamentos, com materiais adequados e uma equipe da escola, incluindo professores, merendeiros, faxineiros e todos os outros envolvidos, adequadamente treinados para receber essas crianças”, pontua Marcelo Otsuka.
Em São Paulo, escolas particulares retomaram as atividades presenciais no dia 1 de fevereiro, enquanto as aulas do ensino público estão marcadas para retornar no dia 8. As escolas funcionarão com 35% da capacidade, com rodízios para evitar aglomerações, mas nenhum aluno será forçado a comparecer, podendo optar pelas aulas virtuais, se a escola tiver condições de oferecê-las.
Para Marcelo Otsuka deve ser feita uma análise técnica em cada instituição. A capacidade da escola tem de ser verificada, como é a disposição das salas de aula; como serão os rodízios nos horários de saída, chegada; como serão os rodízios nos intervalos de aula e nos horários de refeição. “Isso requer uma análise técnica. Essa análise técnica ela pode ser fornecida para escolas e as escolas até poderem aplicar isso, mas isso precisa acontecer e precisa acontecer com parceria dos órgãos da saúde e da educação.”
Aos que estão retornando, os protocolos para alunos e professores são os mesmos: distanciamento, higiene e uso permanente de máscaras. No entanto, devido a novas variantes mais contagiosas do vírus, Marcelo aconselha o uso de máscaras cirúrgicas e não mais de tecido.
Outro fator importante a ser levado em consideração é o cuidado em casa, já que não adianta a escola se preparar e se preocupar com todos os protocolos e procedimentos, se a família do aluno e o aluno não estiver se cuidando fora do horário letivo, frequentando aglomerações, como se tem visto.
Para Marcelo, a volta às aulas é importante, mas deve ser feita de forma gradual e segura, para não aumentar ainda mais o risco de transmissão e contaminação do vírus.