O receio de contágio pelo coronavírus afastou muitas pessoas de consultórios, laboratórios e hospitais.
A cautela foi necessária e permitiu que serviços de saúde e profissionais se preparassem para enfrentar a inesperada e hostil crise sanitária.
No entanto, muitos pacientes que precisam de tratamento contínuo negligenciaram suas doenças. É o caso de cardiopatas, diabéticos, portadores de câncer, entre outros.
De acordo com a Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde), a demanda por leitos clínicos de especialidades que fogem a doenças infectocontagiosas, como a COVID-19, teve queda de 50% em março e abril, em comparação ao mesmo período do ano anterior.
Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) apontou redução de atendimento em hospitais públicos de pacientes em rastreamento e tratamento para câncer de mama de cerca de 75%, considerando-se as mesmas ocasiões em 2019 e 2020. O Ministério da Saúde também emitiu alertas para necessidade da manutenção dos cuidados de doenças crônicas como hanseníase.
Em outros países houve comportamento equivalente ao dos pacientes brasileiros. Nos Estados Unidos, mortes de cardíacos em casa aumentaram 800%. Diversas cidades da Europa também perceberam a resistência de suas populações em sair de casa para prosseguir com tratamentos, por temor ao SARS-CoV-2.
Diante desse cenário, as comunidades médicas reforçaram a divulgação de campanhas para que não haja interrupção dos cuidados com a saúde, embora as medidas de isolamento social permaneçam importantes para reduzir a propagação do vírus. Visitas a médicos, exames e procedimentos cruciais como hemodiálise devem ser regulares.
“Com certeza, os hospitais estão mais preparados para receber pacientes para procedimentos que não sejam referentes à COVID-19”, diz Rubens Covello, CEO do IQG Health Services Accreditation, responsável pela certificação de gestão de qualidade de mais de 750 organizações de saúde no Brasil. “Padrões e protocolos foram revisados por nossos hospitais acreditados para que todos – funcionários e pacientes – estejam seguros.”
De maneira geral, a segurança se intensificou em todas as instituições de saúde para mitigar chances de infecção cruzada. Os hospitais adotaram normas rigorosas para realizar os atendimentos, que incluem entradas separadas para as pessoas: o fluxo de pacientes possivelmente contagiados ou, de fato, já contaminados pelo SARS-CoV-2 é isolado dos demais.
A testagem constante de profissionais e pacientes, além da restrição de circulação de acompanhantes nos hospitais, também fazem parte dos novos protocolos.
A austeridade das medidas de proteção contribuiu para que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) liberasse a realização de cirurgias eletivas, que tinham sido suspensas em março. De qualquer maneira, os especialistas recomendam prioridade a casos complexos