Olá! Tudo bem?
Os prêmios de riscos para todas as classes de ativos aumentaram significativamente à medida em que as notícias do cenário doméstico traziam mais incertezas sobre o futuro da economia.
A inflação, medida pela IPCA, continua incomodando
A taxa segue em níveis bastante elevados e, mais preocupante, é o índice de dispersão de 73%. A dispersão elevada indica que a maioria dos preços que compõem o IPCA apresentam alta. Ou seja, a inflação não é mais localizada em poucos itens, tanto que cresce a cada dia a expectativa de que a Selic possa subir 1,25% na próxima reunião do Copom, no dia 22/09, alcançando 6,5%.
O gráfico abaixo dá uma boa ideia da mudança na curva de juros do fechamento de julho para o fechamento de agosto. O deslocamento da curva foi significativo.
A divulgação dos próximos índices será crucial para tornar mais claro o tamanho do aperto monetário necessário para retomar a ancoragem das expectativas para a inflação, a partir de 2022. No ano de 2021, a meta está totalmente comprometida. O IPCA certamente encerrará o ano acima do limite de tolerância de 5,25% dado o impacto da crise hídrica no preço da energia, que ainda poderá trazer para a inflação.
Se por um lado o BC se vê obrigado a fazer um aperto monetário maior para lidar com a inflação, por outro piora as expectativas para o crescimento econômico. Não apenas pela alta dos juros, mas pelo risco fiscal que preocupa, pela crise hídrica que pode impactar a produção industrial e pelo aumento da tensão institucional entre os poderes. Riscos que apagaram um pouco o brilho dos números de crescimento do PIB, no início do ano, o aumento da arrecadação dos governos federal, estaduais e municipais e o bom desempenho das exportações.
A boa notícia do mês
Ela vem através da evolução da pandemia da Covid-19 no Brasil. Os casos de óbitos recuaram durante todo o mês, com queda na média móvel de 1.000 no final de julho, para menos de 700 no final de agosto, além da queda no número de internações. No final de agosto não tínhamos nenhuma região em estado crítico em relação à ocupação de leitos e UTI’s, e houve avanço importante da vacinação, com média móvel acima de 1,6 milhão de doses nas duas últimas semanas do mês passado.
E fora do Brasil?
Do lado do cenário externo os dados mais fracos de atividade econômica nos EUA e o aumento de casos de Covid-19 em alguns Estados afastaram, por ora, a possibilidade do FED antecipar o movimento de redução dos estímulos monetários, entre eles o aumento das taxas de juros. Condição que limitou o aumento do dólar (em agosto houve queda 0,42%) pelo aumento do diferencial de taxa de juros brasileira com a americana e dos maiores saldos comerciais (exportações vs. importações). O que impede uma apreciação mais intensa do Real é a percepção de aumento das incertezas fiscal e política. Na China, chamou a atenção a resposta do Governo Central ao aumento de casos da Covid-19. Novos lockdowns foram decretados em diversas províncias, resultando na contração da atividade econômica no mês.
O gráfico abaixo mostra o comportamento das ações ao longo de 2021. Na área em destaque é o mês de agosto com queda mais pronunciada na primeira quinzena.
O gráfico a seguir mostra a evolução da taxa do dólar em 2021. Na área em destaque, o mês de agosto com apreciação mais intensa na primeira quinzena e, na segunda quinzena, uma queda em função da expectativa na manutenção dos estímulos monetários nos EUA.
Setembro
Neste mês vão permanecer, no radar, os riscos de maior deterioração da economia chinesa e a probabilidade da antecipação da retirada dos estímulos monetários na economia americana. No Brasil ficarão no radar o aprofundamento da crise hídrica e o comportamento dos preços de bens e serviços.
A evolução da crise hídrica dependerá, fundamentalmente, das medidas que vêm sendo tomadas pela Câmara de Gestão Hidroenergética (Creg), se serão suficientes para evitar risco de blecautes e/ou racionamentos, como por exemplo a adesão dos grandes consumidores ao plano de redução da demanda por energia no horário de pico e do comportamento das chuvas a partir de outubro. Pelo lado da inflação, persistindo a alta de preços haverá mais pressão para alta na taxa Selic, o que impactará negativamente o cenário de crescimento econômico para 2021 e, principalmente, para 2022.
Um abraço e até a próxima,
Luiz Sacchetto é administrador de empresas com mais de 30 anos de experiência em finanças. Já atuou em bancos e em empresas dos setores agrícola, farmacêutico, químico e de seguros. Atualmente é Gerente Nacional de Vendas do ramo Previdência na Seguros Unimed.