2021 começou
E, com ele, as notícias dos planos de vacinação, em vários países. O otimismo foi grande com várias fotos e imagens de pessoas se vacinando. A vacinação em massa certamente será o grande divisor de águas para a economia global. Será dela que poderemos ver o mundo livre das amarras do isolamento social e do lockdown e, assim, retomar de forma mais vigorosa um crescimento econômico global.
No entanto…
Passada a euforia, se impôs a dura realidade para o gigantesco desafio da oferta e logística de distribuição de vacinas para a população mundial. Qualquer que seja a vacina, infectologistas afirmam que será preciso atingir de 60% a 70% da população para se alcançar a chamada imunização de rebanho. Em números, o mundo precisa vacinar algo em torno de 4,7 bilhões de pessoas. Um gigantesco desafio, ainda mais diante das dificuldades de produção, equidade de acesso e velocidade da imunização. Os países em desenvolvimento (mais pobres), ao que parece, dependerão quase que exclusivamente da OMS com o programa Covax Facility (coalizão de mais de 150 países criada para impulsionar o desenvolvimento e a distribuição das vacinas). Entre os países ricos, o que se vê é uma briga silenciosa para ter acesso às vacinas, sugerindo que as unidades produzidas em suas fronteiras devem ficar à disposição dos Governos locais.
Ainda é preciso ter cautela
Com o avançar do mês, surgiram notícias de novas variantes do vírus, em especial no Reino Unido, África do Sul e Brasil (Amazonas), o que trouxe grande preocupação para a Comunidade Científica. Há incertezas se as vacinas disponíveis serão eficientes para combater às novas cepas. Não tardou para vários países decretarem medidas mais duras de isolamento social e lockdown. A euforia otimista rapidamente foi substituída pela cautela, com a percepção de que vencer a pandemia ainda exigirá grande esforço mundial, tanto para imprimir maior velocidade aos processos de imunização como para conter a nova onda de contaminação que voltou a assolar o mundo.
Foi por essa razão que os bancos centrais das maiores economias do mundo reafirmaram os compromissos de manter, e até mesmo ampliar, as medidas monetárias para prover liquidez e estímulos às suas economias, a fim de que continuem operando diante de um ambiente de incertezas (como a dúvida do tempo que ainda será necessário manter medidas de isolamento social e/ou lockdown).
Biden quer investir quase USD 2 trilhões contra a Covid-19!
Do lado da política internacional, o destaque foi a posse de Joe Biden como presidente dos EUA e a confirmação de que o Congresso Americano será de maioria democrata, facilitando as negociações e aprovações de projetos de interesse do Governo. A nova configuração das forças políticas traz otimismo para a provação do pacote de USD 1,9 trilhão apresentado pelo Governo Biden, em 14 de janeiro. Além disso, a preocupação de Biden com a Covid-19, o anúncio de medidas de combate à pandemia e a disposição para acelerar a vacinação trazem expectativas de uma retomada mais rápida para a economia americana.
Em nosso país..
No Brasil, o que fez mesmo os mercados reagirem com mais cautela e maior aversão a riscos foram questões internas. Na esteira do mundo observamos o crescimento acentuado dos casos de Covid-19. A imagem mais emblemática foi o Estado do Amazonas com a saturação do sistema de saúde e a falta de oxigênio. Situação que expôs a condução errática do combate à Covid-19, sem uma coordenação nacional, a exagerada politização da pandemia e da vacinação, e as dificuldades de estabelecer um fluxo mais consistente de vacinas para um processo de imunização mais acelerado.
A nova onda de contaminação e baixo ritmo de vacinação traz o risco de exigir a retomada nas restrições de mobilidade, para não colapsar os sistemas de saúde. Com o fim do auxílio emergencial e sem perspectiva de um novo programa, a recente e persistente alta da inflação – que impacta diretamente a renda das famílias -, e a elevada taxa de desemprego reduzem o consumo comprometendo ainda mais a recuperação de uma debilitada economia.
Alerta ligado!
Para acentuar um quadro já bastante difícil, o comunicado do COPOM, em sua primeira reunião de 2021, foi decisivo para um movimento mais intenso de aversão ao risco nos mercados locais. Com um tom mais duro, alertou sobre a fraqueza da atividade econômica, a baixíssima geração de empregos e o novo repique da Covid-19, o que pode piorar ainda mais o quadro fiscal do país. O comunicado fez ainda um alerta sobre a completa ausência no andamento das reformas que, segundo o COPOM, pode elevar o prêmio de risco (leia-se necessidade de aperto monetário – aumento de juros). Em outras palavras, o COPOM passará a olhar com mais atenção para o quadro fiscal e a inflação, ao afirmar que “como consequência, o forward guidance deixa de existir e a condução da política monetária seguirá, doravante, a análise usual do balanço de riscos para a inflação prospectiva”.
A expressão forward guidance é o compromisso do Banco Central em não aumentar a taxa Selic no longo prazo, desde que o cenário base para a inflação em 2021 e 2022 se mantenha suficientemente abaixo da meta. Foi exatamente esse compromisso que foi retirado no comunicado. Daqui para frente, pode-se esperar um Banco Central menos tolerante e mais guiado pelo balanço de riscos em suas decisões.
Briga de gente grande
O ambiente político também trouxe mais volatilidade. Os atritos entre o então presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, aumentaram com ataques das duas partes e ameaças de impeachment pelo Congresso. O fim do mandato dos presidentes da Câmara e do Senado trouxe um tumultuado processo de sucessão, que se transformou numa disputa entre governistas e oposição. Em meio ao aumento no número de casos da Covid-19 e o atraso no programa nacional de imunização, os congressistas, de olho nas eleições legislativas, ameaçaram com a volta do auxílio emergencial mesmo que implique em riscos para o teto de gastos, gerando mais estresse aos mercados.
Foi a chave para os mercados promoverem forte correção nos ativos de renda variável, renda fixa e câmbio. Na Bolsa de Valores, o Índice Bovespa apresentou queda de 3,32%.
![Ibovespa, no mês de janeiro.](https://blog.segurosunimed.com.br/wp-content/uploads/2021/02/1.png)
Na Renda Fixa, a possibilidade de estarmos mais próximos de um aumento dos juros foi expressa no mercado, que projeta já para março uma alta para a Selic. Essa perspectiva alterou, de forma sensível, toda a estrutura da curva de juros com a consequente correção no preço de praticamente todos os ativos de renda fixa.
![Curva Prefixada, durante o mês de janeiro.](https://blog.segurosunimed.com.br/wp-content/uploads/2021/02/2.png)
A desvalorização do Real também foi outro termômetro que acusou o movimento de aversão ao risco. O dólar subiu 5,4% em janeiro.
![Relação entre Dólar e Real no mês de janeiro.](https://blog.segurosunimed.com.br/wp-content/uploads/2021/02/3.png)
Depois de um final de ano marcado por forte otimismo nos mercados globais e no Brasil, 2021 começou cercado de incertezas e volatilidade. Assim, os Fundos de Previdência foram impactados por esse cenário em suas rentabilidades no mês de janeiro, mas mantêm ótimos retornos nas janelas de médio e longo prazo.
No quadro abaixo, observamos que nos períodos de 12 a 60 meses os fundos estão com performance consistentemente acima de 100% do CDI. Para um ano como foi o de 2020, com a pandemia da Covid-19, são resultados que mostram uma trajetória consistente de rentabilidade no longo prazo.
![Indicador dos fundos de Previdência da Seguros Unimed.](https://blog.segurosunimed.com.br/wp-content/uploads/2021/02/4.jpg)
Todo esse ambiente trouxe um peso relevante para as eleições legislativas, que ocorreram no início de fevereiro. Do resultado das eleições sairá um novo mapa de forças políticas e de sustentação do Governo. Será importante verificar como e se ocorrerá uma convergência de agendas entre os poderes Legislativo e Executivo. Dessa convergência veremos se as pautas reformistas, de privatizações, de redução do tamanho do Estado e de equilíbrio das contas públicas serão prioridades mútuas. Será dessa convergência que ficarão mais claras as perspectivas para um crescimento econômico sustentável.
A julgar pela reação dos mercados, no início de fevereiro, após as vitórias de Arthur Lira (PP-AL), para presidência da Câmara dos Deputados, e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para a presidência do Senado, as perspectivas são de que haverá uma estabilidade política que pode proporcionar, finalmente, uma agenda positiva. Ambos presidentes eleitos foram apoiados e são apoiadores do Governo Bolsonaro. Desde o início, ambos já se pronunciaram que trabalharão para construir essa convergência de agendas. Do lado do presidente Bolsonaro, as manifestações de apoio para ambos demonstram que o Brasil pode ter um ambiente mais harmonioso entre Executivo e Legislativo. O mês de fevereiro começa com perspectivas melhores para os mercados.
Um abraço e até a próxima.
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Luiz Sacchetto é administrador de empresas com mais de 30 anos de experiência em finanças. Já atuou em bancos e em empresas dos setores agrícola, farmacêutico, químico e de seguros. Atualmente é Gerente Nacional de Vendas do ramo Previdência na Seguros Unimed.