O panorama da saúde bucal no Brasil demonstra a necessidade de melhorias no setor público e privado para ampliar a cobertura de pessoas com acesso a serviços odontológicos.
O panorama da saúde bucal no Brasil ainda exige muitas melhorias. Segundo dados atualizados do Conselho Federal de Odontologia (CFO), o Brasil conta com mais de 400 mil cirurgiões dentistas.
Considerando apenas esse dado, a situação não parece tão ruim. No entanto, a realidade é bem diferente. Quase metade dos dentistas do país estão concentrados em apenas três estados: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Além da distribuição desigual, a evolução lenta das políticas públicas relacionadas à prevenção e tratamento de doenças bucais dificulta o acesso das camadas mais pobres da população a serviços odontológicos.
Considerando a dificuldade de acesso a esses serviços na rede pública, quem tem uma condição econômica mais favorável investe na Odontologia Suplementar, ou seja, em planos odontológicos.
Em outras palavras, o panorama de saúde bucal no Brasil é complexo e envolve fatores sociais e econômicos, bem como políticas públicas e investimentos realizados no setor odontológico.
Para compreender melhor esse panorama, é fundamental conhecer os dados que comprovam esse cenário. Assim, será mais fácil entender as mudanças e melhorias que ainda precisam ser feitas em termos de saúde bucal no país.
Neste artigo, vamos apresentar a realidade da saúde bucal brasileira utilizando as informações de pesquisa mais recentes sobre o assunto.
Panorama da saúde bucal no Brasil
Para entender a realidade atual da saúde bucal no país, o primeiro passo é compreender as diferenças entre a rede de serviços odontológicos disponível na rede pública e privada.
Entenda quais são essas diferenças a seguir:
Sistema público de saúde bucal no Brasil
Historicamente, a saúde bucal nunca foi prioridade dos governos brasileiros. Isso é resultado de vários fatores.
Um deles se deve ao fato de que os governantes direcionaram seus esforços e investimentos em massa à prevenção, vacinação e tratamento de doenças graves e contagiosas que assolavam o país.
O primeiro movimento a favor da saúde bucal no Brasil só foi registrado em 1957. Na época, o Rio Grande do Sul promulgou a Lei Estadual n.º 3.125/1957, que tornou obrigatória a fluoretação das águas.
Somente em 1974, essa Lei Estadual virou regulamentação federal. Assim, a água fluoretada finalmente passou a ser adotada como uma política pública de prevenção de cáries.
Porém, as mudanças mais significativas em termos de saúde bucal pública só foram registradas após a promulgação da Constituição Federal de 1988.
Afinal, o Sistema Único de Saúde (SUS) finalmente pode ser implementado, democratizando o acesso do povo aos serviços de saúde, inclusive aos serviços odontológicos.
O objetivo da odontologia na saúde pública é democratizar o acesso aos serviços utilizando três pilares: equidade, universalização e integralidade. Por isso, além de simples atendimentos, os dentistas do SUS são responsáveis por fazer atividades educativas e ações de prevenção de doenças.
O SUS também fomenta projetos que ampliam a assistência odontológica. Um desses projetos foi o “Brasil Sorridente”. Criado em 2004, ele se tornou a maior política pública de saúde bucal do mundo, alcançando quase 100 milhões de pessoas.
Apesar desses dados, a cobertura dos serviços odontológicos no SUS ainda é pequena e exige melhorias. Mesmo com demandas maiores de atendimento, somente 30% dos profissionais dentistas prestam serviços ao SUS.
Os demais se encontram na rede privada. Como resultado, há uma sobrecarga que causa demora no atendimento, dificultando o acesso a medidas de prevenção e tratamento de doenças bucais.
Sistema privado de saúde bucal no Brasil
Os problemas associados à oferta de serviços odontológicos no setor público abriram espaço para o crescimento e consolidação da odontologia no setor privado.
Por décadas, apenas pessoas pertencentes à classe alta tinham acesso aos serviços desse setor. No entanto, a popularização dos convênios a preços mais baixos tornou os cuidados da saúde bucal mais acessível a camadas mais populares da sociedade.
Por conta disso, o crescimento do setor impressiona. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em janeiro de 2023, mais de 30 milhões de brasileiros tinham planos odontológicos.
Embora esse número não represente nem 15% da população, as operadoras são responsáveis por realizar a maior parte dos atendimentos odontológicos do país.
Em 2019, por exemplo, os planos de saúde realizaram 189 milhões de atendimentos, enquanto o SUS promoveu pouco mais de 40 milhões. Esse número reflete os investimentos realizados no setor.
Conforme informações do Ministério da Saúde, no ano de 2020, o governo alocou um montante de R$ 1,4 bilhão no sistema público de saúde destinado a tratamentos odontológicos para toda a população brasileira, que totaliza aproximadamente 211 milhões de habitantes.
No mesmo período, a rede privada investiu cerca de R$ 3,1 bilhões à disposição para 26 milhões de pacientes. Ou seja, o valor investido pelas operadoras é mais do que o dobro em comparação a rede pública, sendo que o número de pessoas assistidas é muito menor.
Isso se reflete na redução do tempo de espera e na redução de problemas associados à oferta de saúde bucal na rede pública. Por esse motivo, os dados sugerem que a Odontologia Suplementar é mais eficiente do que o serviço odontológico oferecido pelo SUS.
Cenário atual da saúde bucal no Brasil
Apesar de ser o país com maior número de cirurgiões dentistas do mundo, a distribuição desigual desses profissionais e a dificuldade de acesso a serviços odontológicos prejudicam a saúde bucal da população.
A maioria dos profissionais está alocado na região Sudeste, principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Além disso, 52% das instituições de graduação, que oferecem cursos de odontologia, também estão localizadas nessa região.
Por outro lado, quem reside no Norte e Nordeste não só enfrenta dificuldade para acessar serviços odontológicos, mas também para se graduar em odontologia.
Esses dados combinados ao fato de que a maior parte da população tem acesso a serviços odontológicos apenas pelo SUS explicam a gravidade dos problemas dentários enfrentados pelos brasileiros.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde realizada pelo IBGE em 2019, 34 milhões de brasileiros com mais de 18 anos perderam 13 ou mais dentes até o período da pesquisa.
Além disso, quase metade das pessoas com mais de 60 anos estão com a arcada dentária totalmente comprometida. A perda de dentes é um problema resultante de infecções bucais e outros problemas dentários não tratados.
Por isso, esses dados revelam que a falta de assistência odontológica adequada continua causando prejuízos graves a muitos brasileiros.
Importância da saúde bucal para o bem-estar em geral
A saúde bucal influencia na alimentação, nutrição, comunicação, na autoestima, na saúde mental e até na saúde física das pessoas.
Por isso, investir na higiene bucal e consultar regularmente o dentista é essencial para melhorar a qualidade de vida e garantir o bem-estar.
Afinal, quem mantém a saúde bucal em dia não só tem menos riscos de desenvolver problemas relacionados à boca, mas doenças que acometem outras partes do corpo.
Isso ocorre devido à possibilidade de as bactérias que habitam a boca adentrarem a corrente sanguínea e se estabelecerem em diferentes partes do organismo, inclusive no coração.
Quando essas bactérias alcançam um dos órgãos vitais, elas contribuem para o desenvolvimento da endocardite bacteriana, uma condição com potencial para causar danos irreparáveis ao coração e, em casos mais graves, levar à morte do paciente.
De acordo com informações do Instituto do Coração, 45% das doenças cardíacas estão associadas a infecções bucais.
Portanto, investir na saúde bucal é essencial não só para evitar problemas dentários, mas também para garantir a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar geral da população.
Doenças bucais mais comuns entre os brasileiros
Para reforçar a importância de cuidar da saúde bucal, explicamos abaixo as doenças relacionadas à boca mais comuns entre os brasileiros. Confira!
Falta de dentes
Conforme explicado, a falta de dentes é um dos principais problemas associados à falta de saúde bucal no Brasil.
Esse problema é comum em pessoas de todas as idades, especialmente entre aqueles que têm pouco ou nenhum acesso a serviços odontológicos.
Essa perda de dentes geralmente ocorre por falta de higiene bucal adequada, que provoca a inflamação do ligamento que sustenta o dente ao osso e a gengiva.
Como resultado, a pessoa perde o tempo. Lembrando que fatores de risco, como o tabagismo, também podem colaborar para que o dente amoleça.
Cáries
A cárie dentária é um dano causado pelos ácidos produzidos pelas bactérias presentes na boca, normalmente na forma de placa bacteriana.
Visualmente, nos seus estágios iniciais, ela consiste em uma mancha esbranquiçada presente na superfície do dente.
Com o passar do tempo, a cárie promove a descalcificação do dente e o aparecimento de cavidades, que costumam causar dor ao paciente.
Vale lembrar que a cárie pode ser causada por vários fatores, principalmente pela má alimentação associada a uma higiene bucal ruim.
Mau hálito
O mau hálito é um problema comum que pode ser causado por vários fatores. Também chamado de halitose, geralmente ele está associado a falta de higiene bucal adequada e a uma alimentação desequilibrada.
Ambos contribuem para o desenvolvimento de cáries, inflamações na gengiva, acúmulo de restos de comida retidos nos dentes, baixa produção de saliva, ressecamento da boca e a presença de placa bacteriana no fundo da língua.
Todos esses problemas podem provocar mau hálito, prejudicando a autoestima e a qualidade de vida do seu portador.
Gengivite
A negligência com a higiene bucal pode provocar o acúmulo de placa bacteriana nos dentes. Além da cárie, essa placa também contribui para o desenvolvimento da gengivite, que é a inflamação da gengiva.
Caso não seja tratada, essa doença pode evoluir pode se transformar em uma periodontite, problema crônico que pode provocar até mesmo sangramentos, dor e amolecimento dos dentes.
Cuidar da saúde bucal é essencial para melhorar a qualidade de vida da população
O panorama da saúde bucal no Brasil demonstra que as pessoas ainda têm dificuldade para acessar serviços odontológicos de qualidade.
Essa dificuldade resulta no desenvolvimento de problemas dentários que prejudicam a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida da população.
O caminho para solucionar ou minimizar esse quadro pode envolver estratégias como o desenvolvimento de políticas que permitam democratização do acesso a serviços odontológicos.
Essas políticas de fomento devem envolver o setor público e privado, incluindo parcerias entre os dois setores para facilitar a captação de investimentos e aumentar a cobertura de serviços odontológicos no país.
Investir em campanhas de conscientização sobre a importância de manter a higiene bucal em dia e fazer consultas regulares ao dentista também é essencial.
Assim, as pessoas têm a oportunidade de aprender que a prevenção e o tratamento precoce ainda são as medidas mais eficientes para garantir sua saúde bucal e preservar sua saúde e qualidade de vida. Quer saber mais sobre o panorama da saúde bucal no Brasil? Baixe nosso e-book Panorama da saúde bucal no Brasil e entenda as características e perspectivas desse tema!