Quando a inflação está em alta ao mesmo tempo em que a atividade econômica se enfraquece, há uma contradição evidente e bastante preocupante, que sugere o risco de estagflação da economia. Esse cenário é contraditório porque derruba uma das lógicas de mercado mais conhecidas: a relação entre a oferta e a procura. Quando há grande demanda por um produto escasso, seu preço tende a subir — um movimento que, normalmente, vemos acontecer quando a economia está aquecida, ou seja, em períodos em que há mais dinheiro em circulação e maior predisposição ao consumo.
O problema acontece quando os preços sobem sem que haja uma pujança econômica que justifique a pressão inflacionária. Esse é um alerta que deve ser acompanhado não apenas por economistas e gestores políticos, mas também pelas empresas, que podem ser duramente afetadas pela combinação desses dois fatores negativos (inflação e estagnação econômica). Neste artigo, vamos explicar o que é estagflação e como você deve agir para proteger o seu negócio!
O que é estagflação?
“Estagflação é uma das doenças da economia”, resume o economista e professor da ESPM, Leonardo Trevisan. Ela mistura dois sintomas de que as coisas estão indo mal, não estão no lugar certo. “A doença da estagflação acontece quando se tem uma economia parada e, ao mesmo tempo que ninguém está interessado em fazer investimento, os preços estão subindo.”
O que torna esse cenário preocupante é que, para corrigir o problema, é necessário adotar medidas duras. O remédio amargo é a elevação da taxa de juros, uma das principais ferramentas da política macroeconômica para conter a inflação. O efeito adverso é que a elevação dos juros desestimula ainda mais a atividade econômica.
Além de tornar mais caras as operações de crédito, inibindo o consumo e os investimentos produtivos (voltados para a expansão das atividades econômicas), os juros altos tornam as aplicações financeiras mais atrativas porque o rendimento obtido aumenta. Nesse contexto, entre investir no próprio negócio (expandindo as operações) e deixar o dinheiro rendendo no banco, o empresário pode preferir a segunda opção.
“No momento em que o investimento cessa, compromete a geração de emprego”, continua Trevisan. “É evidente que sem emprego não há consumo. Quando não tem consumo, a economia toda para.” Ou seja, o remédio para atenuar um dos fatores associados à estagflação (a inflação) acentua outro (a estagnação). “É por isso que tanta gente está chamando a atenção para esse processo, porque é um dos problemas mais difíceis de serem enfrentados pela teoria econômica.”
O Brasil está em estagflação?
Para Trevisan, o Brasil está caminhando para a estagflação. As projeções de mercado para o próximo ano têm se alinhado nesse mesmo sentido. De acordo com o Boletim Focus, relatório emitido pelo Banco Central, com perspectivas econômicas apuradas junto a analistas de mercado, publicado em 22 de novembro, a inflação deve alcançar quase 5% em 2022 — uma semana antes, a projeção era de 4,79% e quatro semanas antes, 4,40%.
“O mercado está construindo uma expectativa de que no ano que vem os preços vão continuar subindo”, resume Trevisan. “O que a gente está lendo nisso: o remédio do Banco Central não está sendo eficiente — ele vai ter que aumentar a dose. Se aumentar a dose, pode conter a inflação, mas a economia vai parar mais ainda.”
As projeções do Boletim Focus para o PIB acompanham essa tendência. A previsão do PIB para 2022, no mesmo relatório, estava em 0,7%, mas esse percentual foi reduzido pela metade em relação às perspectivas publicadas quatro semanas antes (quando os analistas de mercado projetavam alta de 1,4% para o PIB do próximo ano).
Um fato torna o contexto ainda mais desafiador: as expectativas econômicas estão relacionadas às percepções sobre a política econômica do país. Essa leitura é feita de forma mais analítica pelos especialistas de mercado, mas todos os agentes econômicos, como empresários e consumidores, sentem o ambiente para tomar suas decisões. O governo precisa emitir mensagens claras a respeito das medidas adotadas para reverter o cenário.
A responsabilidade fiscal exemplifica como é desafiador manter um discurso coerente com a política econômica adotada no dia a dia. Se o governo informa que vai gastar apenas o que arrecada, precisa manter uma agenda econômica coerente com isso. Só que, na prática, surgem novos elementos no cenário que levam gestores públicos às contradições. A proximidade com o período eleitoral, por exemplo, é um momento de alerta para os analistas, porque há mais propensão à elevação de gastos.
Como agir em um cenário de estagflação?
Diante da expectativa de estagflação, empreendedores e empresários já devem adotar alguns cuidados para atenuar o impacto desse cenário em seus negócios. Trevisan traz quatro dicas principais. Confira!
- Medir cada passo: seja cauteloso em relação aos movimentos que irá fazer, sobretudo quando envolverem investimentos.
- Reduzir custos: fique atento em relação aos gastos e, se puder, reduza custos do seu negócio.
- Planejar bem: “Cada passo tem que obedecer a um planejamento”, aconselha Trevisan. E é muito importante que os planos estejam bem fundamentados, alinhados ao cenário que estamos vivendo. “Entre a vontade e a realidade, fique com a realidade, neste momento.”
- Entender o consumidor: a tendência é que algumas decisões de compra possam ser adiadas em meio ao acirramento da crise econômica. Sentir como o consumidor está respondendo a esse cenário é fundamental para tomar decisões melhores.
A melhor maneira de enfrentar a estagflação é adotar boas práticas de gestão e aprimorar a gestão de riscos do seu negócio.