Cuidar das finanças pessoais na terceira idade pode ser um verdadeiro desafio. Muita gente pensa que após tantos anos de trabalho e preocupações com dinheiro, é o momento de curtir a vida. Todavia, a educação financeira para idosos é uma ferramenta essencial para garantir a autonomia, auxiliar a tomada de decisões e coibir o abuso financeiro comumente sofrido por esta parcela da população.
Dados do Disque 100 – canal de informações e denúncias de violações dos direitos humanos do governo federal – apontam que os idosos são o segundo grupo de pessoas mais vulneráveis e em 2019 foram registradas 48,5 mil queixas de violência.
A negligência representou quase 80% do total de denúncias recebidas. Na sequência vem a violência psicológica (24%) e abuso financeiro (20%), violência física (12%) e institucional (2%). Em geral, as violações são praticadas pela própria família, como filhos, netos, genros, noras, entre outros.
De acordo com um levantamento da Federação Brasileiras de Bancos (Febraban), houve aumento de 60% nas tentativas de golpes financeiros contra idosos desde o início da pandemia da covid-19.
Victor Barboza, especialista em finanças pessoais, diz que o idoso deve ter noção de quanto recebe mensalmente, seja aposentadoria, aluguéis e outros rendimentos, ter um planejamento de gastos e um valor guardado para eventuais emergências.
“A educação financeira é utilizada para que o idoso saiba se pode e quanto de dinheiro poderia dar a outras pessoas, como filhos, netos e amigos. Mostra ainda quais tipos de produtos e serviços financeiros valem a pena ser contratados, além de ajudar na conscientização e inibir o abuso econômico”, afirma.
Como fazer um controle de gastos?
Para ter uma vida confortável, os idosos precisam ter um orçamento e planejamento financeiro detalhado para conseguir pagar todas as despesas, ter dinheiro para o lazer e uma reserva de emergência para situações imprevistas.
“O primeiro objetivo sempre é formar uma reserva de emergência, mas depois deste estabelecer outras metas para suas finanças pode mantê-lo focado e menos suscetível aos gastos desnecessários”, diz Rodrigo Bastos Monteiro, instrutor da Udemy especializado em finanças pessoais.
Colocar tudo na ponta do lápis é a primeira iniciativa para fazer a gestão do dinheiro e o controle de gastos. Pode ser no bom e velho caderninho ou planilha de excel para registrar todos os seus rendimentos e despesas.
Para facilitar, a dica aqui é utilizar o modelo de orçamento 50/30/20 que vai dividir a sua renda líquida em gastos essenciais, supérfluos e investimentos.
Na prática ficaria assim:
- 50% para essenciais: moradia, alimentação, condomínio, plano de saúde, telefone, transporte, entre outros;
- 30% para supérfluos: compras, presentes para familiares ou amigos, comida em restaurante, entre outros;
- 20% para guardar: este é o percentual indicado para poupar dinheiro todos os meses e montar a reserva de emergência ou realizar um sonho.
Vale lembrar que os percentuais são ajustáveis à realidade financeira de cada pessoa, portanto você poderá fazer um 60/20/20 ou 80/10/10.
Desta forma, é possível visualizar as suas finanças pessoais na totalidade e fazer o controle de gastos para não dar um passo maior do que a perna. “Quando não há o planejamento, é muito fácil se perder nas contas e acabar gastando mais do que deveria. Mas é importante lembrar que apenas planejar não basta, pois é preciso comparar, no final das contas, quanto realmente foi gasto em relação ao que havia sido planejado”, alerta Barboza.
Por isso, é importante anotar os gastos toda semana e identificar quais são as categorias que estão extrapolando o seu orçamento. Avalie também as taxas que você está pagando, por exemplo, as tarifas de manutenção de conta bancária. Mensalmente, os valores podem parecer insignificantes, mas em 12 meses somam um bom dinheiro.
Para cortar esse gasto, vale solicitar o pacote de serviços essenciais no seu banco, conforme a resolução n° 3919 do Banco Central. Com ele, você terá direito a um cartão de débito, quatro saques, duas transferências para contas da mesma instituição bancária, dois extratos no caixa eletrônico e até dez folhas de cheque com isenção de tarifas. É uma opção ideal para idosos que só precisam de uma conta corrente para receber a aposentadoria ou outros rendimentos e não fazem muitas movimentações.
Outra dica importante para fazer o controle de gastos, é entender que os estímulos de consumo são maiores que a nossa capacidade de atendê-los, segundo Monteiro.
“Independentemente de quanto uma pessoa ganha, o mercado sempre terá à disposição dela produtos e serviços que lhe faltem. O marketing usa a nossa insatisfação para vender produtos que prometem acabar com ela. Enquanto a sensação de saciedade pelo consumo é sempre momentânea, o esforço financeiro realizado para atender ao consumo muitas vezes compromete o futuro. Então, se dar conta do papel do consumo nas finanças e com isso “domar” o ímpeto consumista é o primeiro passo”, argumenta.
Educação financeira para idosos: o perigo dos empréstimos consignados
A facilidade do crédito consignado para ajudar um filho que passa por dificuldades financeiras ou fechar as contas do mês podem desestabilizar o orçamento de um idoso. Isso porque esta modalidade de empréstimo desconta as parcelas direto do pagamento e, caso não seja algo muito bem planejado, pode virar uma bola de neve e deixar o saldo vermelho no final do mês.
A inadimplência entre pessoas com mais de 60 cresce sistematicamente. Para se ter uma ideia, entre outubro de 2018 e outubro de 2019, 900 mil idosos não conseguiram pagar seus compromissos financeiros, ficando inadimplentes e endividados, de acordo com os dados da Serasa Experian.
É por isso que a educação financeira é uma ferramenta fundamental para que os idosos e pessoas de qualquer faixa etária não fiquem endividadas. Quando você sabe cuidar do seu dinheiro, tem condições de avaliar as suas finanças pessoais e tomar decisões conscientes antes de ceder ao impulso de pegar dinheiro emprestado sem avaliar as consequências.
Para quem recebe apenas a aposentadoria, por exemplo, é muito importante ter ciência de que se contratar um crédito consignado, a renda nos próximos meses será menor e, consequentemente, terá impacto no padrão de vida.
Barboza destaca que o empréstimo só deve ser feito em caso de grande necessidade.
“É muito comum que as instituições financeiras oferecerem este produto financeiro para as pessoas que estão se aposentando e que, no primeiro momento, parece ter só benefícios. Porém, lembre-se que é um empréstimo, logo, por conta dos juros, você terá que devolver para a instituição mais do que pegou emprestado. E para não se enrolar com ele, é necessário ter um planejamento de quanto por mês é descontado da sua conta para o pagamento das parcelas, o valor que sobrará para os gastos mensais e qual o prazo para o término do crédito”, explica.
Como investir seu dinheiro após os 60 anos?
Os objetivos de uma pessoa idosa são diferentes de uma pessoa com 20 ou 30 anos. O jovem tem um longo tempo a seu favor e mais possibilidade de recuperar eventuais perdas financeiras. Não significa, no entanto, que aos 60 anos não é possível poupar dinheiro e investir na realização de algum sonho.
Para a terceira idade, especialistas recomendam investir em aplicações com alta liquidez e baixa volatilidade.
“São investimentos que preservam o capital e que podem ser sacados rapidamente sem prejuízos. Imóveis, por exemplo, não se encaixam nessas características porque se você precisar vender um imóvel rápido, vai ter que vender abaixo do preço justo”, explica Monteiro.
Ademais, os idosos ainda podem considerar os seguros de vida para ampliar a proteção financeira de quem contrata e da família. Atualmente, muitas seguradoras aumentaram a idade limite de contratação, que pode chegar até 70 anos e muitos produtos oferecem coberturas que podem ser usufruídas em vida, como o pagamento de despesas médicas e assistência residencial.
“Porém, antes de sair contratando qualquer seguro oferecido, é muito importante entender quais são as coberturas, buscar saber a reputação da seguradora e encontrar, no final dos contas, o que tenha o melhor custo-benefício para você”, finaliza Barboza.
Um assunto d extrema relevância