Se você toma remédios com frequência é quase certo que, em algum momento, você já pensou em cortá-los ao meio ou amassá-los. Mas será que isso é permitido? Ou pode causar algum risco à saúde?
De acordo com os especialistas, a prática não é indicada, principalmente por não garantir uma quantidade igual do princípio ativo do remédio nas duas partes e, consequentemente, pela possibilidade de prejudicar o tratamento do paciente.
À Agência Einstein, Leonardo Pereira, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), explicou por que cortar comprimidos não é seguro.
“O medicamento é uma mistura do princípio ativo (substância responsável pelo efeito do remédio) com outros excipientes (ingredientes) farmacêuticos. Isso tudo é misturado e prensado. Por isso, não é possível garantir que a metade direita e a metade esquerda tenham a mesma quantidade”, disse.
O mesmo vale para quem opta por amassar (ou triturar) o medicamento. Isso porque os revestimentos dos comprimidos passam por testes para proteger os ativos das drogas. Sem isso, esses remédios podem sofrer ações da luz e umidade, por exemplo, e ter a eficácia reduzida. Outro ponto é que essa “capa”, em alguns casos, serve para que o medicamento seja liberado aos poucos no organismo.
E os remédios com sulcos? Alguns podem até ser apropriados para o corte ao meio (com ajuda de um cortador), mas, ainda sim, o recomendado é que os remédios não sejam divididos sem orientação médica. A prática pode resultar em reações incertas ou ineficácia na ação.
Estudo mostra que prática não é segura
Um artigo feito por pesquisadores da Universidade Católica de Pelotas (RS), publicado na Revista de Ciências Farmacêuticas Básica e Aplicada, apontou os problemas de partir um comprimido ao meio. Os cientistas utilizaram o fármaco mais usado para o controle da hipertensão arterial, o diurético hidroclorotiazida.
Após testar cerca de 750 pílulas, os autores do estudo identificaram discrepâncias nas partes divididas. “Os resultados encontrados a partir da quebra dos comprimidos (em especial nas amostras similar e genérica) podem indicar a tendência a uma maior fragmentação, em virtude da menor resistência apresentada pela forma farmacêutica, verificada nos testes de dureza e friabilidade”, escreveram os autores.
Por fim, eles concluíram que a prática não se mostra segura em função das grandes variações na concentração de fármaco. Outro ponto levantado pelos autores é que partir e/ou quebrar o comprimido não demonstrou ser uma prática simples, em especial para pessoas idosas, já que demanda muito cuidado para que o comprimido possa ser quebrado exatamente na metade e que ele não se fragmente em mais do que dois pedaços.
“Com base nisso, o processo de partição de comprimidos não é recomendado, em função das dificuldades encontradas na realização do processo, comprometendo assim a eficiência e a segurança do tratamento”, afirmaram no estudo.
Há situações em que é possível cortar um comprimido ao meio, mas quando?
Apesar da contraindicação, a divisão do comprimido pode ser indicada em duas situações:
- em casos em que os especialistas orientam que o paciente aumente a dose de um remédio aos poucos;
- quando a pessoa precisa parar de tomar a medicação aos poucos (desmame). Neste caso, o tratamento não pode ser interrompido de forma abrupta e, por isso, a quantidade de miligramas é reduzida gradualmente.