A possibilidade de abrir um negócio é uma alternativa para as pessoas que tiveram o salário reduzido ou perderam o emprego durante a pandemia do coronavírus – a taxa de desemprego no Brasil cresceu e ficou em 12,2% (12,9 milhões de pessoas) no 1º trimestre de 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A crise mudou o comportamento e os hábitos de consumo. Com isso, surgiram novas necessidades e alguns segmentos ganharam destaque.
“Sem sombra de dúvidas, para um empreendedor perspicaz, crise e oportunidade são duas faces da mesma moeda. Se há um problema, há solução possível. Um ponto importante, seja para um negócio novo ou para aquele que já existia antes da pandemia, é a necessidade de reinventar-se. Quem empreende precisa estar aberto à inovação o tempo todo”, afirma Victor Corazza Modena, professor de pós-graduação em empreendedorismo na IBE Conveniada FGV.
De acordo com João Moura, consultor do Sebrae/PR, existem alguns aspectos importantes que devem ser considerados antes de empreender. O primeiro deles é avaliar o quão urgente é empreender. Muitos abrem negócios para garantir sua sobrevivência no curto prazo, ou seja, garantir renda para pagar alimentação e outras contas. “É um fator importante, porque vai definir o tipo de negócio que a pessoa vai escolher”, diz.
O segundo ponto é entender se o segmento está conectado com as atuais demandas do mercado durante a crise. Por exemplo, a pandemia aumentou o consumo de alimentos, produtos de limpeza e higiene, por meio de delivery.
Quais os primeiros passos para abrir um negócio em meio à crise do coronavírus?
Segundo Moura, existe um pacote mínimo de etapas para reduzir os erros ao empreender. Veja:
Entender o seu papel como empreendedor: o autoconhecimento é essencial em várias áreas da vida e não seria diferente na hora de empreender. Pense que você será o protagonista. A pessoa que vai abrir e fechar o negócio todos os dias. Portanto, é necessário entender quais são suas principais características, pontos fracos, se você tem habilidade para lidar com pessoas, negociar, entre outros.
“Muitas vezes, um conhecimento técnico é importante, mas não é essencial para estar à frente de um negócio. Quando você assume o seu papel de empreendedor, você está lidando com pessoas, fazendo a gestão financeira, pensando no serviço e olhando para o comercial. Por isso, é necessário ter uma atuação sistêmica e desenvolver várias habilidades dentro desse processo”, explica Moura.
Conhecer o mercado e os clientes que você pretende atender: é necessário mergulhar de cabeça nesse universo. Pesquise quem são os seus potenciais clientes, onde estão, quais são suas críticas e o que os seus possíveis concorrentes estão entregando. Lembre-se que o mercado está mudando todos os dias e você precisa se empenhar para acompanhar.
Estruturar o modelo de negócio: questionar o seu diferencial e o que fará com que os clientes escolham você e não o seu concorrente são pontos importantes para colocar a ideia do negócio no papel e em prática.
Testar seu produto ou serviço: vivemos um momento de muitas mudanças e incertezas para os negócios. Para diminuir a possibilidade de erros, perda de dinheiro e aumentar as chances de sucesso, você precisa testar e validar sua ideia antes de formalizar sua empresa.
“Se você vai trabalhar com alimentação, por exemplo, pode desenvolver os produtos e tentar vender por meio das redes sociais ou outras plataformas. Esse teste vai te ajudar a entender qual a saída do seu produto, quais são as avaliações dos seus clientes e o preço que as pessoas estão dispostas a pagar”, orienta Moura.
O consultor do Sebrae/PR ainda destaca que alguns empreendedores costumam fazer testes com a família e amigos que dificilmente vão apontar erros. “Não é com má intenção. Muitas vezes são pessoas que querem incentivar, mas não oferecem opiniões para aprimorar a ideia de negócio. Os experimentos são importantes porque você tem a possibilidade de chegar no seu cliente real e sentir na prática o quanto ele está sensível para comprar”, diz.
Como se organizar financeiramente para abrir um negócio?
Não é possível estabelecer uma média de valor para empreender, afinal depende muito do segmento, produto e serviço oferecido. Dessa forma, é fundamental planejar, pensar nos recursos necessários para o funcionamento, custo de produção, preço de venda do produto ou serviço e capital de giro – dinheiro disponível para funcionar até começar a ter lucro. Além disso, o empreendedor também precisa contabilizar quanto precisa vender por dia, semana e mês para manter o negócio de pé.
Segundo Modena, é interessante desenhar quadros com possíveis resultados do negócio. Por exemplo, se o empreendedor espera ter faturamento em um mês, deve fazer um planejamento considerando três cenários: ruim, dentro do esperado e acima das expectativas. “Se o mercado reagir de acordo com o que o empreendedor acredita, quanto o negócio trará de vendas? E de despesas? Qual o lucro mensal? E se o mercado melhorar? O que acontece se piorar? Estes questionamentos são válidos para o planejamento e para se organizar financeiramente”, explica.
“As projeções e os planejamentos vão ajudar o empreendedor a ter uma noção de como está caminhando. O orçamento não nasce para acertar, mas, sim, para ser uma referência. Observar se o realizado está acima ou abaixo do esperado e do planejado é fundamental para a tomada de decisão futura do negócio”, finaliza.
Os empreendedores que tiverem dúvidas sobre o seu negócio, podem procurar o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) que está realizando atendimento online durante a pandemia. Procure a unidade da sua cidade e converse com os especialistas em empreendedorismo.