Pequenos, coloridos, viciantes, os cigarros eletrônicos mais parecem pen drives. Sem regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), esses produtos que recebem o nome de dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) causam preocupação em médicos, associações e, agora, em pais e cuidadores.
Isso porque, segundo um relatório do Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia (Covitel), pelo menos 1 a cada 5 jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil, ou seja, 19,7%.
Apesar de parecer mais inofensivo que os cigarros tradicionais, esses dispositivos oferecem, sim, riscos à saúde. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), esses produtos contêm aditivos com sabores, substâncias tóxicas e nicotina, que é a droga que causa dependência, adoecimento e morte.
Quais os riscos à saúde?
Como não dá para saber ao certo o que está sendo colocado no organismo por meio dos vapes, é difícil prever todos os riscos. No entanto, estudos já identificaram que os cigarros eletrônicos contêm milhares de produtos químicos desconhecidos e substâncias não divulgadas pelos fabricantes.
Inclusive, em 2019, uma doença ligada ao uso dos vapes foi batizada de Evali, caracterizada por uma lesão pulmonar associada ao uso direto desses DEFs. Isso ocorreu principalmente nos Estados Unidos, com um número alto de casos e até mesmo de mortes por conta do uso dos cigarros eletrônicos, especialmente os que tinham THC (um dos princípios ativos da maconha) e nicotina.
Mas é possível dizer que o principal órgão afetado é o pulmão, porta de entrada do vapor. Há relatos de pessoas com queixa de tosse, falta de ar, dor no peito, febre. Há riscos de asma, enfisema pulmonar, além de impactos no coração, como hipertensão, impactos cardiovasculares, infarto, e o desenvolvimento diversos tipos de cânceres.
Além disso, homens que usam cigarros eletrônicos ou vaporizadores têm duas vezes mais riscos de sofrer de disfunção erétil em relação aos que não utilizam, de acordo com um estudo publicado em dezembro de 2021 pela revista médica American Journal of Preventive Medicine.
Porta de entrada do tabagismo
Além de todos esses riscos à saúde, o uso desses cigarros eletrônicos favorecem o tabagismo. O uso de DEF aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de uso do cigarro, segundo pesquisa do Inca.
“Nossos resultados mostram que o cigarro eletrônico aumenta a chance de iniciação do uso do cigarro convencional entre aqueles que nunca fumaram, contribuindo para a desaceleração da queda no número de fumantes no Brasil”, disse, em comunicado, a coordenadora de Prevenção e Vigilância do INCA, a médica epidemiologista Liz Almeida.
A iniciação do uso do cigarro convencional após cigarro eletrônico pode ser explicada pelo fato de que cigarros eletrônicos contendo nicotina podem levar à dependência dessa substância e à procura por outros produtos de tabaco – o que é ainda mais preocupante nas faixas etárias mais novas.
Por isso, neste Dia Mundial Sem Tabaco (31), o alerta é de que o tabagismo é um dos principais fatores de risco evitáveis e responsável por mortes, doenças e alto custo para o sistema de saúde, além da diminuição da qualidade de vida das pessoas e da comunidade.
Não há nível seguro de exposição ao tabagismo passivo. Segundo o INCA, a única maneira de proteger adequadamente fumantes e não fumantes é eliminar completamente o fumo de produtos de tabaco em ambientes fechados.