A equação dos tempos de COVID-19, trabalho e filhos em casa nem sempre dá bons resultados.
O confinamento exigido pelo novo coronavírus, de fato, potencializa o volume de acidentes domésticos. É um reflexo esperado, já que crianças ficam longe da escola o dia todo, pais e demais familiares, em geral, estão em regime de home office e, no tempo extra, também se dedicam à manutenção da casa. Nesse cenário, ainda há produtos de limpeza inflamáveis e com poder significativo de toxicidade.
O Sabará Hospital Infantil, na capital paulista, dono de um dos maiores centros de atendimento pediátrico do país, registrou aumento de 50% na quantidade de ocorrências relacionadas a acidentes domésticos nos primeiros cinco meses de 2020, em comparação ao mesmo período do ano anterior. “Os mais observados durante o período de quarentena têm sido os traumas e as inserções de corpo estranho, como a ingestão de moedas”, diz Thales Araújo de Oliveira, supervisor do pronto-socorro.
Ainda em relação aos pequenos, a Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM) tem chamado atenção para o perigo, particularmente, do uso do álcool líquido 70%, produto recém-liberado para comercialização. Para o presidente da SBCM, João Baptista Gomes dos Santos, as crianças são especialmente suscetíveis a queimaduras, sejam com produtos inflamáveis ou à beira do fogão, o que pede cuidado redobrado dos pais.
Além do álcool, outros itens potentes de limpeza, ao mesmo tempo em que protegem do temido vírus, podem se tornar vilões se não forem bem utilizados.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu uma nota técnica em que alerta sobre riscos de exposição tóxica. De acordo com o documento, “parece haver uma associação temporal clara” entre o incremento de ocorrências relacionadas ao consumo de produtos de higienização e a pandemia do SARS-CoV2. A nota é baseada em dados dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox), órgãos ligados ao Ministério da Saúde, que indicam aumento de 23,3% de registros de intoxicação de adultos no período de janeiro a abril de 2020 em relação ao mesmo período de 2019 e de 33,68% se comparado a 2018.
“Deixe janelas abertas enquanto usa produtos de limpeza para não correr o risco de intoxicação por inalação”, sugere Roberto Marcondes Pereira, professor de Segurança do Trabalho do Senac São Paulo.
Os problemas relacionados a produtos de limpeza vão de infecções respiratórias a queimaduras e até explosões. A Anvisa enfatiza a importância do consumo de acordo com informações descritas no rótulo. Misturar produtos e reutilizar embalagens também é perigoso.
O especialista em Segurança do Trabalho, Roberto Pereira, acrescenta o cuidado com quedas durante a faxina ou organização da casa, principalmente no caso de idosos. “Idealmente, todos devem usar sapatos antiderrapantes quando limparem a casa, em vez de meias ou calçados mal encaixados nos pés.”
Medidas de socorro
Ainda que sejam tomadas precauções, nenhuma família está imune a imprevistos. Em princípio, durante a pandemia, deve-se adiar a entrada em hospitais. “Mas se ocorrerem traumas associados à perda de consciência, sangramento, vômitos persistentes ou cefaleia intensa, a ida ao pronto-socorro é necessária”, diz Thales Oliveira, do Sabará. “Lembre-se sempre de consultar o pediatra ou até mesmo verificar os serviços de Telemedicina de Urgência oferecidos por algumas instituições; podem ser muito úteis e orientar a conduta mais adequada”, completa o médico.
A professora de enfermagem do Senac São Paulo, Danielle Fernandes Sprengel, faz algumas recomendações sobre como proceder em situações acidentais diversas:
Cortes: lavar com água e sabão; em seguida, colocar um pano limpo sobre o local, fazendo pressão. Se for um sangramento maior, também elevar o membro afetado para diminuir a perda de sangue. Para grandes sangramentos, evitar trocar os panos; apenas acrescentar outros, conforme a necessidade, além das medidas já adotadas anteriormente. Se não cessar, procurar auxílio médico imediatamente.
Ingestão de objeto e sufocamento: ligar imediatamente para o SAMU (192) ou para o Corpo de Bombeiros (193). Se possível, realizar a manobra de Heimlich, que consiste em fazer pressão na região da “boca do estômago” com movimento de J.
Ingestão de substância química: ligar no CEATox (0800-722-6001), munido de informações importantes como idade e peso da vítima, como foi o contato com o produto, há quanto tempo se deu a exposição ao produto, quais sintomas está apresentando. Nunca provocar vômito sem orientação, pois pode fazer com que a substância seja absorvida duas vezes.
Queimaduras: o ideal é resfriar com água e não passar nenhum produto. Se for uma queimadura grande, não retirar o que ficou aderido à pele pelo calor – apenas resfriar e encaminhar a pessoa machucada ao serviço de urgência mais próximo. Para queimaduras menores, resfriar o local e não estourar a bolha, pois ela é a proteção para a nova pele em formação.
Fraturas: é importante apoiar as partes do membro fraturado e tentar deixá-lo imóvel. Para isso, pode-se utilizar até mesmo cadernos, revistas e camisetas enquanto aguarda atendimento. Nunca tentar “recolocar” a fratura no lugar.