Nos Estados Unidos, essa já é uma prática comum. Por aqui, ela está se disseminando. Saiba quais as consequências disso no dia a dia da profissão
Exames de imagem, de sangue, enfim, exames em geral, têm como finalidade auxiliar o médico a chegar a um diagnóstico. Mas qual é o limite disso? Será que eles são extremamente necessários, imprescindíveis, sempre? Essas são algumas das perguntas que muitas associações e sociedades médicas, ao redor do mundo, têm feito ultimamente. O motivo: cresce, a cada ano, a chamada medicina defensiva, ou seja, a solicitação aos pacientes de um número cada vez mais excessivo de exames para complementar ou mesmo confirmar um diagnóstico. Ainda não existem dados brasileiros sobre o tema. No entanto, é possível se balizar pelas estimativas americanas. Dados da Associação Médica Americana estimam que os gastos com a medicina defensiva são responsáveis, nos Estados Unidos, por 10% dos custos globais dos serviços médicos.
Uma pesquisa feita pela Escola de Saúde Pública de Harvard apontou, ainda, que 90% dos médicos americanos praticam esse tipo de medicina. A principal razão elencada por eles é evitar possíveis processos por negligência profissional. Além da realização de uma quantidade extensa de exames e de procedimentos, notou-se também uma crescente prescrição de medicamentos que não têm, de fato, valor para o tratamento. O estudo realizado em Harvard considerou a medicina defensiva “um esbanjamento, que desvia os profissionais de saúde da prática médica sensata”.
No dia a dia, o que se nota é que a medicina defensiva praticada nos EUA só fez aumentar os custos para o sistema de saúde, sem reduzir os processos por negligência médica. É isso o que mostra outro estudo, dessa vez realizado pela Faculdade de Medicina de Mount Sinai, em Nova York. Segundo a pesquisa, praticamente 91% dos médicos americanos solicitam testes e procedimentos apenas para protegê-los de processos judiciais.
É claro que isso não significa que o médico não deve solicitar uma série de exames, afinal esse é um recurso para fortalecer ou mesmo confirmar um diagnóstico. Uma análise mais profunda, respaldada por uma boa conversa com o doente, que estabeleça um histórico familiar e os hábitos de vida, seguido por um detalhado exame clínico, ainda é uma boa maneira de exercer a medicina. A tecnologia, com certeza, é de grande valia, principalmente quando estão respaldadas em bases científicas. Mas as práticas médicas primordiais continuam válidas e eficazes.