Olá, pessoal. Tudo bem?
Mais um mês agitado
Começou com a internação do presidente Trump, que está com a Covid-19. Não só o presidente, mas vários membros do Governo foram diagnosticados com a Covid-19. A internação durante o período mais intenso da campanha trouxe mais tensão entre o Republicano Trump e o Democrata Biden. Aliás, a campanha presidencial foi praticamente um debate em torno da pandemia nos EUA. O tão esperado novo pacote fiscal de USD 1,9 trilhão, por exemplo, ficou mesmo para depois das eleições e, com isso, o receio de que a economia
americana não consiga esperar o tempo da política.
O cenário no Brasil também ficou mais complicado
O risco fiscal entrou de vez como o maior risco à estabilidade econômica. A dívida pública caminha para superar o PIB, um indicador para a percepção de solvência. Essa fragilidade nas contas públicas é o que tem feito os investidores pedirem cada vez mais prêmio para comprar título do Tesouro. De janeiro a abril de 2021, o Tesouro Nacional terá vencimentos de títulos de aproximadamente R$ 615 bilhões. Será desafiador fazer a rolagem desses vencimentos com a percepção da piora da solvência.
As tensões políticas em Brasília só crescem
Tem a confusão em torno da Renda Cidadã cujo objetivo é substituir o Bolsa Família. O programa sofre resistência justificável da equipe econômica por não estar claro as fontes de recursos de financiamento, sem comprometer ainda mais o déficit público. A equação para implantar vai, até aqui, na direção de furar o teto de gastos, retirando a única âncora de controle das contas públicas. Dentro do próprio Governo, a briga é grande entre os desenvolvimentistas, representados pelo Ministro do Desenvolvimento Regional Rogério Marinho, que deseja ver o Governo gastando mais para impulsionar a economia, e os monetaristas, representados pelo Ministro da Economia Paulo Guedes, que deseja o controle das contas públicas para manter os juros baixos, inflação sob controle e eficiência do Estado.
As reformas Administrativa e Tributária empacaram de vez
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, acusa o próprio Governo de desinteresse, pois permitiu que a base aliada na Câmara promovesse diversas obstruções nas medidas de interesse do Governo para a agenda das reformas. Não dá para dizer que Rodrigo Maia jogou a toalha, mas o ambiente reformista na Câmara arrefeceu. As eleições municipais impactaram o andamento das reformas e veremos se, no pós-eleições, voltam a ganhar tração. Paira no mercado um certo incômodo sobre as reformas, já que vira e mexe voltam as
especulações da permanência de Paulo Guedes, formulador das reformas no Governo. São crescentes as notícias de que Bolsonaro prepara uma reforma ministerial para os próximos 2 anos de mandato.
A inflação entrou no radar de riscos
O IGPM de outubro foi de 3,23%, levando o índice para 20,93% no acumulado nos últimos 12 meses. O IPCA também mostrou alta que incomodou. Em setembro, o índice foi de 0,64%, levando o acumulado dos últimos 12 meses a 3,14%. Ainda que no ano de 2020 o índice deve ficar dentro da meta, o que preocupa é o comportamento futuro. Em outubro, mais sinais de alerta. O IPCA-15, uma prévia do IPCA do mês, foi de 0,94%, mostrando uma possível aceleração da inflação para o consumidor.
Selic em 2% ao ano
O COPOM fez sua reunião e manteve a taxa Selic em 2% ao ano. No comunicado, mencionou que o choque inflacionário deve ser temporário, que não ameaça a meta de inflação e não justifica, por ora, mudança na orientação da política monetária. No entanto, fez um alerta para o crescente risco fiscal e o risco de alta para a inflação no futuro. As projeções de taxas de juros indicam que o Copom poderá ser obrigado a iniciar o aperto monetário antes do esperado.
Desemprego
O desemprego atingiu a maior taxa desde 2012, início da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua) do IBGE. Em outubro, a taxa de desemprego ficou 14,4% no trimestre encerrado em agosto ante 12,9% na amostragem anterior. Foram fechados 4,3 milhões de postos de trabalho em apenas 3 meses, levando o total de desempregados a 13,8 milhões de pessoas. A pesquisa indica, ainda, que houve uma redução de 5,7% na massa salarial em 12 meses. As perspectivas não são animadoras, pois a taxa deve
seguir em alta pelo menos até o primeiro semestre de 2021 dada a fragilidade da atividade econômica para absorver a força de trabalho. A queda da renda e o fim do auxílio emergencial traz perspectivas negativas para o consumo e, consequentemente, um freio para a atividade econômica.
Recuperação da atividade econômica
Até aqui a recuperação da atividade econômica se concentrou nos setores da agropecuária e da indústria. Os dois somados representam 30% do PIB e 25% dos postos de trabalho. Já o setor de serviços representa 70% do PIB e 75% dos pontos de trabalho. Na pandemia, os serviços foram os mais impactados. O auxílio emergencial atenuou o impacto, mas o fim dos pagamentos traz incerteza quanto a recuperação de um setor muito importante na geração de empregos.
Teremos uma segunda onda da Covid-19?
Parece um filme reprisado várias vezes, mas a pandemia da Covid-19 continua sendo a maior fonte de incerteza. A temida segunda onda parece ter se confirmado com os aumentos de casos na Europa e nos EUA. Alguns países europeus e alguns estados americanos estão apresentando indicadores piores daqueles vistos na primeira onda. Com maior ou menor severidade, vários países europeus já anunciaram medidas de restrição. Os EUA não anunciaram nenhuma medida por conta das eleições. Se as medidas de restrições e distanciamento social são os instrumentos de combate, o efeito colateral é a economia global em queda. Uma característica dessa fase da pandemia é a taxa de contágio. A velocidade parece ser maior do que na primeira onda e tem surpreendido os cientistas. Essa fase veio acompanhada da descoberta de uma mutação do vírus que pode estar associada a essa maior velocidade. É uma hipótese que precisa de confirmação, se a mutação tornou a taxa de contágio maior agora do que a na primeira fase da pandemia. No campo da pesquisa de uma vacina trouxe preocupação os estudos que foram suspensos temporariamente (ex.: Oxford e Johnson & Johnson). A preocupação não é se teremos ou não uma vacina, mas quando a teremos disponível. Uma coisa é a descoberta da vacina, a outra tão ou mais desafiadora é fazer chegar a vacina para as pessoas. Toda vez que ocorre alguma interrupção nos estudos, algo normal no mundo científico, vem o receio de que ainda estamos longe de ter uma vacina. O tempo da ciência é diferente do tempo das economias. O curto prazo da ciência é uma eternidade para a
economia global.
Quase sai um acordo entre Republicanos e Democratas
Até meados de outubro, os mercados ensaiaram uma recuperação com o otimismo da aprovação do pacote fiscal nos EUA de USD 1,9 trilhão. Parecia que Republicanos e Democratas tinham finalmente chegado a um acordo para aprovação do pacote. Sendo os EUA uma das locomotivas na economia global, o anúncio do pacote é bom para o mundo. No fim, o acordo não veio, as notícias da segunda onda da Covid-19 chegaram a azedou o humor dos mercados. No gráfico é possível observar os dois momentos. De 07/10 a 26/10, entre soluços, os
mercados ensaiaram algum otimismo com a bolsa desenhando uma trajetória de recuperação. A partir de 26/10, última semana do mês, o pessimismo veio com intensidade. A bolsa caiu 7,2% e o dólar subiu 2,8%. Precisou de uma semana para os mercados devolverem o otimismo construído durante 20 dias.
Em um ano tumultuado como o de 2020, a volatilidade tem sido um tremendo desafio para os gestores de investimentos. Os mercados vão do otimismo ao pessimismo em um único dia. Os mercados amanhecem otimistas e encerram o dia com pessimismo. Esse comportamento errático dos mercados, de sobe e desce, faz com que os ativos sofram fortes variações de preços em questão de horas. Os fundos de previdência sofrem com esses movimentos. Tamanha é a oscilação, em magnitude e velocidade, dos mercados que os gestores não têm tempo hábil para reposicionar as carteiras, quer seja para protegê-las como para alterar o direcionamento. O esforço passa a ser de minimizar os efeitos das perdas dessas intensas oscilações. No quadro abaixo há um resumo dos dois maiores fundos de previdência. Reparem que, para os períodos mais curtos (até 12 meses), os retornos comparativos ao CDI apresentam intensa oscilação. Na janela de três meses, ambos os fundos apresentam retornos muito acima do CDI. É um contraste grande com o período de um mês do fechamento de outubro. Ambos os fundos com variações negativas. São dois momentos que refletem o tumultuado ano que os
mercados enfrentam.
Em se tratando de Previdência, nunca é demais dizer que devemos ter um olhar de longo prazo. No quadro, em destaque, estão as janelas de 24 a 60 meses. Reparem que os retornos são consistentemente acima do CDI para ambos os fundos. Vale dizer que nesses períodos estão incluídos o desafiador ano de 2020.
Vamos ser otimistas
Termino com uma mensagem de otimismo de que devemos confiar na enorme capacidade da humanidade em vencer as grandes crises que o mundo já enfrentou. Foi assim na Gripe Espanhola (1918-1919), no ‘Crash’ de 1929, na 2a Guerra Mundial (1939-1945), na Guerra Fria (1947-1991), nos atentados às Torres Gêmeas em 11/09/2001, e na crise financeira global de 2008. Será assim, também, com a pandemia da Covid-19 em 2020.
Luiz Sacchetto é administrador de empresas com mais de 30 anos de experiência em finanças. Já atuou em bancos e em empresas dos setores agrícola, farmacêutico, químico e de seguros. Atualmente é Gerente Nacional de Vendas do ramo Previdência na Seguros Unimed.