Em outubro, o Brasil atingiu a importante marca de 100 milhões de pessoas vacinadas com duas doses ou com dose única contra a covid-19. O número representa cerca de 55% da população imunizada totalmente; estima-se que pelo menos 70% já receberam pelo menos uma dose.
Com esse número, o Brasil entrou para o ranking dos “top 10” países que mais completaram a vacinação em números absolutos, passando países como Reino Unido.
No entanto, em números proporcionais de doses por habitantes, o país ainda fica atrás de outras nações latino-americanas, como Chile e Argentina.
Mas por que isso é importante?
Para começar, a importância do avanço da vacinação se reflete nos números: os índices de novos casos de contaminação e mortes pelo novo coronavírus seguem caindo e sob controle.
O bom ritmo de imunização também contribuiu para barrar o avanço da variante delta por aqui. Uma das mais agressivas e que vem provocando preocupação pela rápida disseminação nos Estados Unidos e na Europa, a cepa não encontrou ambiente favorável e por aqui se tornou dominante apenas em estados como São Paulo e Rio Janeiro, mas não chegou a fazer grandes estragos.
“A situação está sob controle agora”, diz o infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Segundo ele, isso se deve muito à tradição que o Brasil tem de realizar campanhas de vacinação em massa muito bem-sucedidas. “A confiança nas vacinas aqui é superior que em outras nações, por isso, a adesão da população é grande”, acredita.
Se o bom ritmo continuar, o país pode conseguir alcançar a tão sonhada imunidade coletiva – quando há um número suficiente de pessoas resistentes ao vírus para formar uma barreira que impeça a circulação do patógeno.
Desde o início da pandemia, alguns estudos sugerem que esse “número mágico” fique em torno de 60% a 80% da população completamente imunizada.
“Atingir pelo menos 80% da população imunizada é fundamental para termos um pouco mais de tranquilidade”, avalia Gonzalo Vecina, infectologista, médico sanitarista e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No entanto, ele lembra que o conceito de imunidade coletiva – também chamada de imunidade de rebanho – não é a solução de todos os problemas. “A imunidade neste caso não é permanente”, explica. “Basta uma nova variante que escape aos imunizantes surgir para que a gente volte à estaca zero”, alerta.
Quais os próximos passos?
Além de seguir com a vacinação no ritmo atual, Vecina afirma que também é preciso planejar os reforços em públicos específicos e em quem já foi imunizado. “Precisamos terminar de vacinar adolescentes e crianças, pensar em reforço aos idosos, em terceira dose nos jovens”, afirma. “Ainda há muito a ser feito”, avalia.
Nesse sentido, o desafio agora é fazer uma população mental e emocionalmente esgotada seguir com os cuidados básicos – como uso de máscara e evitar estar em locais com aglomeração, além do uso do álcool em gel – e não entrar no clima de “já acabou”.
“O cenário é muito dinâmico, a qualquer momento uma variante pode surgir e provocar uma perda de proteção vacinal”, afirma Kfouri. “Atravessamos um período ruim, sobrevivemos, mas a guerra ainda não está ganha”.
Até porque a pandemia está perto de chegar aos 5 milhões de mortos pela doença – uma marca simbólica e que, segundo especialistas, pode ser maior do que isso. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o balanço de vítimas poderia ser duas ou três vezes maior.
De acordo com o virologista francês Jean-Claude Manuguerra, em entrevista à agência AFP, o que preocupa é que, além do surgimento de variantes diferentes, a evolução da delta resultou em variantes mais resistentes às vacinas – algo que Kfouri afirmou acima.
“Delta, a mais difundida, é a que, estatisticamente, tem maior probabilidade de provocar uma variante de uma variante”, disse o francês.