Olá, pessoal. Tudo bem?
No Brasil, as dúvidas sobre o controle de gastos e o ritmo das reformas deram o tom no comportamento dos mercados locais. A Reforma Administrativa apresentada pelo Governo foi considerada tímida, uma vez que, se aprovada, só valerá para os novos servidores. Estima-se que o projeto apresentado levará anos para trazer alívio significativo aos cofres públicos. Embora seja uma sinalização positiva de longo prazo, a exclusão dos atuais servidores pode, em curto e médio prazos, ser uma dificuldade para o controle de gastos e um freio indesejado para um crescimento econômico mais robusto.
A Reforma Tributária, considerada ainda mais importante do que a Administrativa, continua patinando. A negociação do Governo com o Congresso não vai bem. Não é à toa que o Planalto escalou um novo interlocutor, o líder do Governo na Câmara, Deputado Ricardo Barros (PP-PR), para fazer a articulação. O Ministro da Economia, Paulo Guedes, que está em pé de guerra com o Presidente da Câmara Rodrigo Maia, não é mais o principal articulador. Agora, Guedes é o formulador da proposta da reforma e o Deputado Barros o negociador. Entre tantas dificuldades para aprovar a Reforma, vale citar duas. A primeira é acomodar os interesses dos Estado e Municípios, que consideram a reforma um risco de perda de receitas, sem ter clara as regras de compensação. Já a segunda é a insistência do Ministro da Economia em incluir uma espécie de nova CPMF, que incide sobre pagamentos. Duas questões que podem tumultuar o processo de negociação e aprovação. Importante destacar que tanto Rodrigo Maia, Presidente da Câmara, como Davi Alcolumbre, Presidente do Senado, são contrários à proposta da nova CPMF.
Também pairam dúvidas do rumo que Bolsonaro poderá dar ao seu Governo. Entusiasmado pelo aumento de sua popularidade por conta do pagamento do Auxilio Emergencial da Covid-19, principalmente no Nordeste, emite sinais contraditórios do seu compromisso com a austeridade nos gastos públicos. Vai “flertando” com o Renda Brasil, rebatizado de Renda Cidadã e que pode substituir o atual Bolsa Família, para ampliar o alcance do programa. Há, ainda, o Projeto Pró-Brasil, capitaneado pelo Ministro do Desenvolvimento Regional, Deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), que baseia o crescimento econômico com mais investimentos e gasto público. Duas iniciativas que geram dúvidas de como poderão ser financiadas sem comprometer ainda mais o delicado quadro do déficit público. A alternativa apresentada para financiar o Renda Cidadã, por exemplo, soou como uma espécie de “pedalada” ao usar a verba dos precatórios e, também, os recursos da Educação. Sugestões amplamente rejeitadas pelos políticos e pela sociedade.
Reflexo das crescentes dúvidas com o quadro fiscal foi notado em setembro com a ausência cada vez maior do investidor estrangeiro na compra de títulos públicos. Em 2015, os investidores estrangeiros detinham 21% do estoque de títulos emitidos pelo Tesouro Nacional. Hoje, a participação estrangeria é de apenas 9%. O mercado local passou, então, a exigir mais prêmio para comprar novos títulos (juros mais altos) e empurrou o Tesouro para venda de papéis com prazos mais curtos para não encarecer demasiadamente o custo da dívida pública. O prazo médio dos títulos, que era de quatro anos, hoje é de 2,5 anos. Movimento perigoso porque pode fazer o Tesouro entrar numa armadilha de financiar a dívida em prazos cada vez mais curtos, se o governo não conseguir equilibrar suas contas.
Se esse cenário permanecer, o mercado pedirá cada vez mais juros para prazos longos, a chamada inclinação da curva de juros de longo prazo. Ainda não há risco de insolvência no curto prazo, mas persistindo a percepção de descontrole do déficit público e com os títulos sendo emitidos com prazos cada vez mais curtos poderá fazer o Tesouro ficar preso na armadilha de rolar a dívida no dia a dia, como ocorreu nas décadas de 70 e 80.
Nas ações também não foi muito diferente do que se viu nos títulos públicos. O investidor estrangeiro tem reduzido sua participação na Bolsa de Valores. Até o final de setembro, a saída de recursos em ações atingiu R$ 88 bilhões, valor duas vezes maior do observado no mesmo período do ano passado. Em dois anos, no período de janeiro a setembro somados, tivemos a saída de R$ 133 bilhões. Em 2019, os investidores locais conseguiram substituir o investidor estrangeiro. Tanto que a Bolsa de Valores encerrou o ano com valorização de 32%. Em 2020, o cenário é bastante diferente e o fôlego do investidor local já não é tão forte para absorver a saída dos investidores estrangeiros.
O que também ajudou a ampliar ainda mais a aversão ao risco foi a percepção de que uma segunda onda de Covid-19 no mundo está batendo na porta. Países que promoveram reaberturas das suas economias, principalmente na Zona do Euro, estão experimentando crescimento preocupante de novos casos. O risco de uma segunda onda de contaminação tem feito alguns países retomarem medidas de restrição de circulação de pessoas. Inglaterra, França, Espanha, Holanda e Israel, por exemplo, já anunciaram medidas.
O risco de uma segunda onda traz dúvidas sobre a recuperação da Economia Global. Os indicadores econômicos sem direção certa trazem mais dúvidas do que certezas. Um dia os indicadores mostram recuperação e, em outros, sinais preocupantes. Até aqui, os indicadores da indústria estão respondendo melhor do que os indicadores de serviços. É isso que preocupa. Em maior ou menor grau, o PIB de serviços tende a ser maior do que o PIB da indústria nas economias, além de ser ele o maior criador de postos de trabalho. No Brasil, por exemplo, o PIB de serviços representa 70% do PIB total. Se medidas de restrição de circulação voltarem, esse abre e fecha e aberturas parciais tornam mais difícil a recuperação econômica.
Os principais Bancos Centrais do Mundo, incluindo o brasileiro, se apressaram em promover manutenção das taxas de juros, dizendo que ficarão baixas por um longo período, que não afastam novas reduções até com juros negativos, e que podem ser mais tolerantes com a inflação em prol de um crescimento maior. Deixam claro que o alvo, neste momento, é o desemprego e que farão de tudo para colocar as economias de volta nos trilhos do crescimento. Essas mensagens das autoridades monetárias foram um alívio para um cenário muito difícil de recuperação.
Vários Governos também sinalizaram a possibilidade de novos pacotes de estímulo. Mas a capacidade de novos e volumosos pacotes esbarram na capacidade de endividamento. Além disso, questões políticas podem atrapalhar a criação de novos pacotes. Um bom exemplo disso são os EUA que, por conta da disputa eleitoral, não conseguem aprovar um novo pacote estimado pelo mercado de algo em torno de USD 1,5 trilhão.
Fato é que o temor de segunda onda traz lembranças recentes do impacto dramático que a pandemia gerou na vida das pessoas e o quão duro foi o avanço, aparentemente descontrolado, da Covid-19. O crescimento de casos parece mostrar que os mais rigorosos protocolos de segurança não são suficientes para lidar com o coronavírus e que o mundo é mesmo dependente de uma vacina para debelar de vez a pandemia.
Várias iniciativas caminham com sucesso para a descoberta de uma vacina. Os cientistas estão otimistas que, em breve, teremos uma vacina. Só que o breve da ciência é bem diferente do breve da economia. Para a economia, o breve da ciência é uma eternidade.
Abaixo, um gráfico com o termômetro da percepção de riscos em setembro. Nele, temos dois indicadores que refletem o comportamento da Bolsa de Valores e da taxa do dólar. Enquanto na primeira quinzena do mês os mercados se equilibravam entre idas e vindas no otimismo, a segunda quinzena (a partir do dia 19/09) deixa claro que o movimento de aversão aos riscos aumentou significativamente. Nos extremos dos movimentos, a Bolsa teve queda de 7,4% e o dólar alta de 5%.
Diante desse cenário, os fundos de Previdência, Unimed RF100C e Unimed RV15, apresentaram no mês rentabilidades negativas com -0,28% e -2,7%, respectivamente. Diante da magnitude dos movimentos dos mercados, os fundos demonstraram certa resiliência.
Se olharmos um importante indicador de renda fixa de mercado, IMA Geral ex-C, que mostra o desempenho de todos os títulos públicos de renda fixa, vemos uma queda de 0,84% em setembro. O IMA é a referência do Unimed RF100C e o indicador foi 3 vezes pior do que o fundo. Ou seja, o Gestor foi eficiente em proteger a carteira e limitar o impacto de queda de preços dos ativos de renda fixa.
Por sua vez, o RV15, ainda que não seja um fundo de ações por ter 15% em renda variável, a Bolsa sempre acaba sendo uma referência. O índice Bovespa encerrou setembro com variação de -7,4%, movimento de queda muito abaixo da rentabilidade do fundo. São momentos como esses que se percebe o valor da diversificação. A porção de renda fixa ajuda a limitar os movimentos mais expressivos de queda nas ações.
Saindo do olhar de curtíssimo prazo, quando olhamos um mês isoladamente, o cenário é positivo no longo prazo. Ambos os fundos, nas janelas de 12, 24, 36, 48 e 60 meses, apresentam rentabilidades consistentemente acima do CDI. O RV15, em todas as janelas, mantém a liderança no ranking de fundos desse segmento. Os fundos de Previdência não miram o curto prazo. O compromisso sempre será o longo prazo, para entregar uma ótima relação risco x retorno para os investidores.
No Unimed Multiestratégia, fundo multimercado lançado em julho, os impactos do mercado também se fizeram sentir na rentabilidade, encerrando o mês com -1,55%. Quando o fundo iniciou suas operações, ainda havia a expectativa positiva tanto para o andamento das Reformas, na permanência no controle de gastos, na redução do tamanho do Estado Brasileiro, como pela expectativa de que o pior da pandemia havia ficado para trás. Dentro dessa perspectiva, o Multiestratégia tinha algo como 25% em renda variável (ações e fundos imobiliários). Portanto, o perfil de investimento guardava semelhança com o Unimed RV15, com uma exposição ainda maior em renda variável. Ainda assim, a performance de setembro foi 0,53% melhor do que a do RV15. Essa diferença sinaliza que o gestor reduziu e/ou neutralizou o impacto da porção de renda variável na rentabilidade do fundo.
Para encerrar, deixo uma mensagem de otimismo de que, em breve, teremos notícias sobre a disponibilidade de uma vacina e, finalmente, possamos ver o mundo livre dessa amarra para retomarmos a liberdade de ir e vir e que as economias voltem a pulsar com o dinamismo e otimismo que se viu no fim de 2019 e início de 2020. Dias melhores virão!
Um abraço.
Luiz Sacchetto é administrador de empresas com mais de 30 anos de experiência em finanças. Já atuou em bancos e em empresas dos setores agrícola, farmacêutico, químico e de seguros. Atualmente é Gerente Nacional de Vendas do ramo Previdência na Seguros Unimed
Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a linha programática e ideológica da Seguros Unimed.