As mudanças climáticas estão entre os grandes desafios enfrentados pela humanidade, atualmente. E o principal caminho para combatê-las é reduzir a nossa pegada de carbono, ou, em outras palavras, diminuir a emissão de gases do efeito estufa (GEE) — o dióxido de carbono (CO2) é o principal deles.
Resultado da atividade humana, baseada em um padrão de consumo que potencializa a liberação de CO2 na atmosfera, as alterações climáticas provocam eventos como o aquecimento global, a intensificação de fenômenos críticos (como chuvas ou secas excessivas), a extinção de espécies, o risco de pandemias, insegurança alimentar, entre outros problemas que estão se agravando rapidamente.
A constatação vem de estudos como os que são elaborados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), entidade científica criada em 1988 pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Em seu relatório mais recente, publicado em agosto de 2021, o IPCC sustenta que é necessário realizar reduções fortes e contínuas nos níveis de emissão de GEE para limitar o avanço das mudanças climáticas, mas especialistas alertam que essa diminuição precisa ser feita imediatamente e em larga escala. O alerta feito pelo IPCC reforça a importância de monitorar o impacto ambiental provocado pela ação humana para que seja possível atenuar seus danos.
O que é pegada de carbono e como ela é calculada?
A pegada de carbono é um indicador usado para medir o impacto ambiental provocado pela liberação de gases do efeito estufa na atmosfera. A metodologia usada para chegar a esse resultado considera uma série de atividades e hábitos com o objetivo de apurar a quantidade equivalente de gás carbônico produzido.
Praticamente tudo o que fazemos gera impacto, porque nossos padrões de consumo e fabricação resultam em uma grande quantidade de resíduos e poluentes. Além disso, vivemos em uma sociedade excessivamente dependente da queima de combustíveis fósseis. Por isso, todos nós temos uma pegada de carbono, medida que pode ser usada para mensurar o impacto provocado tanto por uma pessoa quanto por empresas e países inteiros.
Existem protocolos e metodologias uniformizadas no mundo inteiro e usadas para calcular as emissões de GEE. Esses métodos convertem os dados em uma informação principal: a quantidade de gás carbônico gerado. No âmbito das empresas, o principal mecanismo adotado é o Protocolo GHG — o termo GHG é o equivalente, em inglês, para a sigla GEE.
O Programa Brasileiro GHG Protocol é coordenado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGVces) e pelo World Resources Institute (WRI), em parceria com outros órgãos e empresas. O grupo disponibiliza uma ferramenta que pode ser usada por qualquer empresa ou organização para estimar suas emissões de GEE de acordo com padrões internacionais.
O cálculo é indispensável para fundamentar ações voltadas às boas práticas ambientais. A partir dos dados, empresas e organizações conseguem estabelecer metas para reduzir suas emissões, para fazer a compensação do impacto que provocam, efetivar a neutralização de carbono e até mesmo para participar do mercado de carbono.
Individualmente, qualquer pessoa pode identificar sua própria pegada de carbono e agir para reduzir o impacto ambiental. Todos os produtos e serviços que consumimos diariamente têm um ciclo de vida que influencia na quantidade de CO2 emitida na atmosfera. Com base nessas informações sobre os hábitos de consumo é possível calcular a pegada de carbono. Uma ferramenta que permite essa análise é a calculadora desenvolvida pelo O Globo em conjunto com a Carbonex, empresa que gerencia projetos de crédito de carbono. Outra opção são as calculadoras elaboradas pela climatech (empresa de tecnologia para serviços climáticos) Moss, voltadas tanto para indivíduos quanto para empresas.
Como reduzir a pegada de carbono?
Se todos os produtos e serviços têm ciclos de vida que resultam na emissão de gases do efeito estufa na atmosfera, o principal caminho para reduzir a pegada de carbono é mudar os padrões de consumo e de fabricação, além de elevar as medidas de preservação ambiental. Isso está ao alcance de todos: cidadãos, empresas e governos.
No nível individual, mudanças de hábito já contribuem bastante para atenuar a pegada de carbono. Reduzir o consumo de carne, separar o lixo orgânico do reciclável, usar meios de transporte menos poluentes e diminuir o uso de recursos naturais (água e energia elétrica, por exemplo) são algumas das medidas possíveis. Em geral, o que se busca é a prática do consumo consciente e mais conectado com as boas práticas ambientais.
Para as empresas, é preciso identificar o tamanho do impacto que provocam e quais são os pontos mais críticos em suas atividades (considerando toda a cadeia produtiva) para desenvolver ações mais efetivas de redução da pegada de carbono e compatíveis com as iniciativas ESG (Environmental, Social and Governance — em português, ambiental, social e governança).
Elaborar um sistema de gestão ambiental (SGA) é uma forma de sistematizar as iniciativas para que elas possam ser documentadas, monitoradas e aprimoradas continuamente. Isso pode ser feito internamente, mas é interessante contar com um olhar mais profissionalizado, que pode vir de uma consultoria especializada ou da participação em programas estruturados.
O importante, como ressalta o IPCC, é começar o quanto antes e buscar ações consistentes para diminuir ao máximo a pegada de carbono.