As questões relacionadas à diversidade e inclusão ganham cada vez mais espaço na sociedade, exigindo que as empresas consolidem práticas compatíveis com essas demandas, tanto para o público interno quanto no relacionamento com clientes, fornecedores, parceiros e outros stakeholders. Entender o que é a gestão da diversidade e como ela pode ser aplicada de forma efetiva no dia a dia são os primeiros passos.
O que é a gestão de diversidade?
“A gestão da diversidade é uma competência que todas as organizações, independentemente do seu porte — multinacionais, pequenas ou médias empresas —, precisam desenvolver para estabelecer uma equidade, um equilíbrio entre as suas atividades, seus produtos e serviços e seus colaboradores, pensando em um relacionamento com seus clientes e fornecedores”, define Marcus Vinícius Bomfim, mestre em Ciências da Comunicação, professor assistente no curso de Relações Públicas da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) e professor de Relações Públicas da Universidade Anhembi Morumbi.
Promover a equidade, ou seja, igualar oportunidades para todos, garante às empresas melhores condições de atuação. “Um bom ambiente de negócio para todos os segmentos de mercado depende de um olhar estratégico e sensível para a diversidade dos seus públicos, sejam eles internos ou externos”, argumenta Bomfim.
É por isso que a “gestão da diversidade passou a ser um tema obrigatório na gestão de negócios das empresas”, salienta o psicólogo especializado em crises e emergências e especialista em RH, Alexandre Garrett. “Hoje o mercado exige transparência das ações empresariais e as práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) precisam refletir a gestão das empresas”, complementa.
Garrett sinaliza que em uma sociedade plural é preciso incluir todos os públicos na construção de produtos e serviços. “Aliás, a diversidade é um avanço em inúmeras culturas nos países desenvolvidos e está sendo cobrada também para países em desenvolvimento, até mesmo os mais pobres, para garantias de empréstimos e investimentos”, observa. O especialista exemplifica que a gestão da diversidade exige um olhar amplo e deve considerar a equidade de:
- gênero;
- raça e etnia;
- gerações (dos mais jovens aos mais velhos);
- orientação sexual;
- pessoas com deficiência;
- cultura e religião;
- grupos marginalizados (como ex-presidiários, refugiados e repatriados de países em guerra).
As ações corporativas que buscam igualar oportunidades, produtos e serviços para que estejam disponíveis a todas as pessoas ajudam a atenuar as desigualdades, gerando “valor compartilhado”, ressalta Bomfim. “Os consumidores, os clientes e os investidores estão buscando contratar e consumir produtos e serviços das organizações que têm um compromisso ético com as suas relações e stakeholders. Pensar no valor da gestão da diversidade para as empresas significa ter um comprometimento ético com as questões sociais e ambientais nas relações trabalhistas e, também, de reconhecimento do papel dessas organizações para a sociedade hoje”, comenta. Trata-se, portanto, de criar empresas e negócios com mais valor.
Como colocar a gestão da diversidade em prática?
A gestão da diversidade deve ser bem estruturada para que tenha resultados efetivos, mas é importante lembrar que esse é um processo de longo prazo. Por isso, quanto antes for iniciado, melhor. “As organizações que pretendem fazer a implementação de uma política e gestão da diversidade devem entender fundamentalmente que estão iniciando um processo que vai atravessar muito tempo”, destaca Bomfim. “Estamos falando de um processo de transformação e de mudança de mentalidades, que vai gerar situações de controvérsias, mas que serão superadas com paciência, trabalho, muito diálogo, informação e educação.”
Durante esse processo, as empresas “devem se preparar com humildade, com foco em pesquisa, dialogando com seus colaboradores e movimentos sociais”, orienta o professor. “Todos esses grupos sociais sub-representados têm, direta ou indiretamente na sociedade civil, organizações que estão prontas para ajudar as instituições da iniciativa privada e dos governos que quiserem se desenvolver dentro desse processo de gestão da diversidade”, aconselha. Contar com o apoio de entidades especializadas contribui para que as iniciativas se tornem mais assertivas.
Na prática, é possível indicar caminhos para estruturar a gestão da diversidade na empresa. Bomfim recomenda quatro etapas centrais nesse processo:
- Definir a política da diversidade
- Criar grupos de afinidades
- Construir planos de ação
- Estabelecer uma política de compliance ou um comitê de ética
Vamos detalhar a importância de cada uma dessas fases na sequência.
1. Definir política da diversidade
O primeiro passo é definir a política da diversidade da empresa, mas esse processo deve ser feito de forma coletiva e colaborativa, ou seja, deve contar com a participação de todos, sobretudo de representantes dos grupos que serão abrangidos pelas iniciativas. “É muito importante que as organizações, sejam elas pequenas, médias, grandes ou multinacionais, definam, coletivamente e colaborativamente, uma política da diversidade que respalde as áreas e os profissionais que atuam dentro da empresa, para que eles façam o seu trabalho e acolham a diversidade”, sustenta Bomfim.
2. Criar grupos de afinidades
O professor orienta que seja feita uma espécie de censo da empresa, com o objetivo de identificar o perfil das pessoas que fazem parte da organização para apurar quantas são mulheres, LGBTs, PCDs etc. “Esses dados do perfil demográfico da diversidade na organização serão muito importantes para ajudar a política de diversidade a alcançar os seus números.” Com base nessas informações é possível criar grupos (comitês) de afinidades, que serão importantes em todas as etapas seguintes.
3. Construir planos de ação
A partir da política da diversidade, do censo e da formação de comitês de afinidades, é possível criar planos de ação de curto, médio e longo prazos, estabelecendo metas e indicadores para a gestão da diversidade acontecer.
4. Estabelecer uma política de compliance ou comitê de ética
“Nos eventuais casos em que houver algum tipo de episódio coletado pelos comitês de situações de discriminação, assédio ou preconceito, velados ou não, é importante que a organização tenha uma política de compliance ou um comitê de ética que possa respaldar os colaboradores que se sentirem prejudicados dentro dessa dimensão”, assinala Bomfim. Outro ponto fundamental, acrescenta, é “preparar suas áreas de atendimento ao cliente e ouvidoria para que, em queixas de ações discriminatórias de seus colaboradores, possam tomar medidas corretivas adequadas dentro dos termos da lei”.