A pandemia provocou a desaceleração dos negócios liderados por mulheres em 2020, mas o cenário atual é de recuperação, demonstra a analista de negócios do Sebrae-SP, Camila Ribeiro Gonçalves. “Após recuar para um total de 8,6 milhões de donas de negócio, no segundo trimestre de 2020, o número de mulheres à frente de um negócio no país fechou o quarto trimestre de 2021 em 10,1 milhões (mesmo resultado alcançado no último trimestre de 2019).”
O aumento recente no número de empreendimentos chefiados por mulheres, entretanto, reflete os efeitos da pandemia na realidade das brasileiras. Camila explica que a abertura de muitos desses negócios foi realizada por mulheres que foram demitidas e não conseguiram se recolocar no mercado de trabalho. Ou seja, são negócios iniciados por conta da necessidade, uma situação que não é incomum no empreendedorismo feminino, mas que requer mais atenção.
“O empreendedorismo feminino tem aumentado ao longo dos anos. Dentre os novos negócios, a maioria são liderados por mulheres. Vale ressaltar que, se de um lado temos mulheres empreendendo para realizar o sonho de ter sua própria empresa, de outro, temos também mulheres empreendendo por necessidade. Com isso, a responsabilidade em orientá-las e capacitá-las da melhor maneira possível aumenta muito”, contextualiza Camila.
Historicamente, as mulheres já enfrentam uma série de barreiras ao empreender, condição que foi potencializada pela pandemia. “Empreender é desafiador para todos, mas para as mulheres ainda mais”, avalia Camila. Entre as dificuldades enfrentadas, a analista cita o desafio de administrar o tempo entre a empresa e a casa. “Muitas vezes, ela é a cuidadora de toda uma família e das tarefas domésticas”, observa.
Outra dificuldade tradicional é desenvolver habilidades socioemocionais fundamentais como, por exemplo, liderança, comunicação, negociação, autoconfiança. “Culturalmente, as mulheres nunca foram incentivadas a se desenvolver, principalmente por preconceito de gênero da nossa sociedade”, justifica. Camila acrescenta que as mulheres enfrentam, ainda, o desafio de investir tempo na gestão do negócio e não focar somente em questões operacionais do dia a dia.
Empreendedorismo feminino: impactos provocados pela pandemia
Se, normalmente, empreender já é mais desafiador para elas, em um cenário de crise as dificuldades aumentam. “As mulheres empreendedoras sofreram mais que os homens em relação às perdas causadas pela crise da pandemia”, atesta Camila.
Ao longo da pandemia, houve uma maior redução de empreendedoras em atividade, em comparação com o sexo oposto. A recuperação também tem ocorrido de forma mais lenta do que a verificada entre os negócios dirigidos por homens.
Uma das explicações para essa situação é cultural: boa parte das mulheres precisam se dividir entre a gestão da empresa e os cuidados com a família. “Muitas empresárias tiveram de encerrar suas atividades ou reduzir a operação do negócio para dedicarem mais horas aos filhos e aos idosos.” Além disso, a pandemia provocou mais prejuízos entre os setores com maior participação feminina nos negócios, como serviços de beleza e eventos.
Empreendedorismo com equidade de gênero
“Quando uma mulher empreende, ela ganha sua independência financeira, sua liberdade de escolhas e impacta a família e toda uma sociedade”, afirma Camila, frisando a importância de melhorar o ambiente de negócios para as empreendedoras.
“O caminho é a equidade de gênero”, exclama. “O ambiente de negócios ainda é majoritariamente masculino e a imagem do sucesso está, muitas vezes, ligada à figura de força e autoridade do homem. Assim, muitas vezes, a mulher ainda se depara com a dificuldade de ser reconhecida e isso impacta diretamente sua autoconfiança e capacidade de fazer novos negócios.”
A analista exemplifica que até mesmo o acesso ao crédito e aos recursos para investimento é mais difícil para as empreendedoras. “Em média, as mulheres também pagam taxas anuais de juros 3,5% maiores do que os homens em instituições financeiras.”
Embora haja muito por fazer, Camila avalia que a sociedade vem evoluindo em iniciativas para atenuar os entraves ao empreendedorismo feminino, como os movimentos e as redes de fortalecimento; as linhas bancárias especiais para negócios liderados por mulheres; a abertura de novos mercados; e a criação de políticas públicas voltadas para a equidade de gênero e a diminuição das desigualdades. “Essas iniciativas, juntas, auxiliam as mulheres para conquistar mais espaço no mundo dos negócios, fomentam redes de apoio e motivação para impulsionar outras mulheres ao empreendedorismo.”
O próprio Sebrae desenvolve ações nesse sentido, por meio do movimento Sebrae Delas, que tem os objetivos de promover o empreendedorismo feminino, despertar a capacidade empreendedora da mulher, aumentar a competitividade de seus negócios, possibilitar o aumento da rede de contatos e facilitar o acesso a novos mercados e a crédito orientado.
Além do apoio relacionado à profissionalização da gestão, é importante buscar instrumentos para empreender com mais segurança e tranquilidade, a exemplo do Seguro Vida Mulher, que garante suporte para enfrentar dificuldades que possam surgir no caminho.
Se você é mulher e deseja empreender, vale a pena acessar o e-book que elaboramos sobre empreendedorismo feminino, com dicas para iniciar essa jornada.