A facilidade proporcionada pelo cartão de crédito simplifica algumas transações do cotidiano, mas também pode incentivar as compras por impulso e ser a porta de entrada para o descontrole financeiro. Não por acaso, a modalidade foi apontada como a principal causa de endividamento de 77,8% das famílias brasileiras em agosto, indica a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Diante do alto percentual de endividados e taxas de juros acima de 300% ao ano, o cartão pré-pago pode ser uma alternativa para quem deseja usufruir dos benefícios do crédito sem correr o risco de embarcar em longos parcelamentos ou afundar em dívidas exorbitantes.
O que é e como funciona o cartão pré-pago?
A modalidade de pagamento é similar ao plano pré-pago para celular. Portanto, você faz uma recarga de R$ 100, por exemplo, e suas compras estarão limitadas a esse valor.
Embora os cartões pré-pagos não tenham os juros astronômicos do crédito tradicional, algumas operadoras cobram taxa de adesão, de recarga, mensalidade caso haja saldo, emissão de segunda via e saque em caixa eletrônico, segundo Camila Carvalho, instrutora de finanças pessoais na Udemy.
“Caso haja um limite de valor para saques, a taxa será cobrada por cada saque e não pelo valor total retirado. O encargo é abatido do saldo, então tenha isso em mente. Por exemplo, se você quer retirar R$ 1.000, mas há um limite no caixa eletrônico de R$ 500 por retirada e cada um cobra R$ 8 de tarifa, então você precisará ter, no mínimo, R$ 1.016 de saldo, pois as taxas são abatidas no momento dos saques”, explica.
Controle financeiro
O principal benefício do cartão pré-pago é que o consumidor tem consciência do quanto poderá gastar, afinal é necessário fazer uma recarga para depois consumir.
“A utilização dos cartões de crédito tradicionais acabam invariavelmente criando uma falsa sensação de expansão monetária através do crédito, já que você acaba tendo acesso a mais recursos do que oficialmente tem. No caso do cartão pré pago você utiliza apenas os valores reais”, afirma Milla Maia, especialista em economia e finanças.
Além disso, a modalidade é uma opção interessante para viagens internacionais. Isso porque quando você utiliza o cartão de crédito tradicional nas compras no exterior, os valores serão convertidos em reais apenas no fechamento da fatura, já com o pré-pago, tudo que você adquirir será pago na na hora evitando surpresas salgadas com a taxa de conversão e IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Carvalho acredita que os pré-pagos são uma boa opção para quem já se enrolou com os cartões de crédito tradicionais e precisa controlar os gastos, mas alerta “é preciso levar em consideração a frequência com que serão realizadas as recargas e saques em caixas eletrônicos, por conta das taxas aplicadas”.
Assim, é fundamental ter um orçamento e planejamento financeiro para manter as finanças nos trilhos. Para começar, você pode utilizar o modelo 50/30/20 que divide a sua renda líquida mensal da seguinte forma:
- 50% para os gastos essenciais: aluguel, alimentação, água, luz, internet, serviços de streaming, etc;
- 30% para os supérfluos: compras, delivery de comida, presentes para os familiares e amigos, entre outros.
- 20% para poupar: é o percentual indicado para guardar dinheiro todos os meses e investir na reserva de emergência ou na realização de um sonho.
Os percentuais podem ser ajustados a sua realidade financeira, então você pode fazer um 70/20/10 ou 80/10/10, por exemplo. Lembre-se que é muito importante anotar todos os seus gastos semanais para conseguir fazer os ajustes necessários no seu orçamento e planejamento.
“É preciso ter disciplina para controlar os seus gastos, mas você não deve se desesperar caso o planejado não tenha saído como você esperava logo no primeiro mês. Se você nunca teve muita organização nesta área da sua vida, é natural sair da linha de vez em quando. Como todo aprendizado, isso leva tempo e deve ser feito de forma gradual, um passo de cada vez”, finaliza Carvalho.