2020 foi o ano em que os investidores ficaram com as emoções à flor da pele. Em meio às incertezas causadas pela pandemia da covid-19, a crise econômica mundial e a expectativa pelas vacinas, as bolsas globais tiveram momentos de muita instabilidade e estresse.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, despencou 29,90% e encerrou março passado aos 63,019 pontos – a maior queda mensal desde 1998 – com seis circuits breakers, que é o mecanismo utilizado para interromper as negociações quando o índice cai de forma brusca. Na renda fixa, o Tesouro Direto também teve as transações interrompidas várias vezes e a rentabilidade negativa frente ao aumento das preocupações com a situação fiscal do Brasil.
Os investidores que tiveram sangue frio puderam respirar aliviados em dezembro, quando o Ibovespa terminou o mês com 119.017 pontos e encerrou 2020 com alta de 2,92% – bem abaixo do crescimento de 31,58% registrado em 2019, porém positivo considerando o tsunami causado pela pandemia. Na primeira semana de negociações de 2021, o índice encerrou o pregão da sexta-feira (8) com inéditos 125.077 pontos e acumulou ganho semanal de 5,09%.
Apesar da semana positiva, os economistas acreditam que este ano ainda será instável e exigirá cautela dos investidores devido aos impasses econômicos e políticos que ainda precisam ser resolvidos. Rodrigo Alcântara, economista e assessor na Atrio Investimentos, diz que em 2020 o Brasil adotou uma política monetária expansionista com a emissão de moedas, redução de juros e em 2021 existe uma preocupação muito grande com a inflação, que registrou alta de 3,13% no acumulado de janeiro a novembro.
De acordo com os analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Boletim Focus, relatório divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central, a estimativa de inflação para 2020 é de 4,37%, percentual acima da meta central de 4% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas ainda dentro do intervalo de tolerância que pode oscilar entre 2,5% a 5,5%. O resultado oficial será divulgado nesta terça-feira (12).
“A perspectiva para 2021 continua sendo de juros baixos e cautela, porque a pandemia permanece e as vacinas não serão aplicadas em sua totalidade este ano. Israel, por exemplo, está à frente de todos os países na aplicação de vacinas e só aplicou em 17% da população. No Brasil ainda não aplicamos em ninguém. Não podemos acreditar que temos vacinas e as coisas já melhoraram. A Bolsa melhorou, mas precisamos esperar e ter prudência com o portfólio, porque o risco ainda existe”, avalia Alcântara.
Como começar a investir em 2021
O mercado elevou a estimativa para a taxa básica de juros, a Selic, de 3% para 3,25% no final de 2021. A projeção consta no Relatório Focus que toda semana consulta mais de 100 instituições financeiras para saber as estimativas dos principais indicadores do país.
Atualmente, a Selic está em 2% e apesar da projeção de crescimento ao longo do ano, a taxa ainda está muito distante da era de ouro em 2015, quando chegou a 14,15% e fez a alegria dos investidores da renda fixa.
Dessa forma, os especialistas do mercado recomendam buscar outras alternativas para fazer o dinheiro render. “Os investimentos que acompanham a inflação podem ser uma opção. Mesmo para um perfil conversador há aplicações atraentes que você pode expor uma porcentagem menor do capital e ter uma rentabilidade maior no longo prazo”, diz Bianca Souza, educadora financeira do Grupo H.
Para quem ainda guarda dinheiro na poupança que rende apenas 70% da Selic e ainda assim terminou 2020 com captação líquida de R$ 166,3 bilhões, o maior volume da história segundo o Banco Central, é o momento de embarcar em aplicações mais rentáveis.
Com o mesmo nível de segurança da caderneta, os investidores que estão construindo a reserva de emergência podem fazer o dinheiro render mais nas contas remuneradas oferecidas por bancos digitais, como Nubank e Inter, Tesouro Selic ou CDB com rendimento 100% do CDI.
“Descobrir o seu perfil de investidor vai te ajudar a escolher aplicações de acordo com seus objetivos e prazos. A ideia é seguir o tripé dos investimentos: liquidez, risco e rentabilidade. Busque estudar mais sobre os três termos e também avalie o seu objetivo atrelado a eles para escolher o investimento”, destaca Souza.
Em outubro de 2020, o número de CPFs cadastrados na Bolsa de Valores ultrapassou 3,2 milhões e existem várias justificativas para explicar o aumento de investidores. Entre eles, a explosão de influenciadores e coachs dando dicas e cursos sobre como comprar ações e ganhar dinheiro.
Contudo, especialistas alertam que dicas rápidas na internet não podem substituir o estudo e a compreensão de como funciona o mercado de ações. “Antes mesmo de olhar esses canais, é importante buscar um pouco de literatura e indicadores financeiros que mostram quais são as ações que têm mais risco, o que pode influenciar cada ação e em quais setores. Isso pode dar mais confiança e quando a pessoa assistir algum vídeo no Youtube terá um conhecimento prévio para filtrar o que o outro diz”, recomenda Matheus Jaconeli, economista da Nova Futura.
Ademais, sempre desconfie de promessas de lucros altos em pouco tempo. Mantenha a cautela, investigue antes de investir o seu dinheiro e procure auxílio de profissionais qualificados com a certificação de Agente Autônomo de Investimentos da Ancord (Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias) e as certificações da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).