O caminho até a igualdade de gênero é longo e cheio de percalços. Contudo, apesar das dificuldades diárias, as mulheres estão mudando as estruturas e ocupando espaço em diversos setores da sociedade, incluindo o mercado financeiro – onde outrora era dominado por homens.
Carol Sandler, fundadora do Finanças Femininas, conta que o mercado financeiro foi criado por homens que trabalhavam e tinham rendimento. “As mulheres não tinham renda e patrimônio até pouco tempo atrás. Elas começaram a crescer no mercado de trabalho no final dos anos 60, quando conquistaram o direito de ter o seu CPF e conta bancária individual sem a autorização do marido”, diz.
Sandler afirma existir uma construção social que não incentiva as mulheres a estudar educação financeira e a investir tanto quanto os homens. De acordo com o mapeamento global realizado pelo UBS Investor Watch em 2019, 93% das brasileiras acreditam que os homens entendem mais de investimentos do que elas.
Esse percentual corrobora com o estigma de que finanças, investimentos e economia não são assuntos para mulheres e atrasa a busca pela igualdade de gênero no mercado financeiro.
“Quando a mulher consegue bancar as suas escolhas, ela se torna dona da sua própria vida e para isso ela precisa ter controle e planejamento financeiro. Investimentos são a melhor ferramenta que a gente tem para planejar o nosso futuro e diminuir essa desigualdade. Um dos caminhos, com certeza, passa pela educação financeira”, explica Sandler.
Felizmente, alguns estudos comprovam o equívoco desse viés e podem ajudar a quebrar a barreira da desigualdade.
O banco Goldman Sachs constatou que fundos com um terço de gestoras mulheres registrou rentabilidade de 1 ponto percentual a mais do que aqueles sem quadro feminino em 2020.
O levantamento avaliou 496 grandes fundos de investimentos multimercado nos Estados Unidos, que juntos somam US$ 2,3 trilhões. Outra conclusão é que em geral, 43% dos fundos com gestoras mulheres tiveram um desempenho melhor que seus índices de referência, frente a 41% dos que são administrados por homens.
Como incentivar mais mulheres a mergulhar no mercado financeiro
A promoção da diversidade é um ponto que pode encorajar outras mulheres a ingressar no mercado financeiro. Não é incomum ouvir relatos de potenciais investidoras frustradas com o tratamento desigual nas corretoras de investimentos.
A mudança desse cenário passa pela maior oferta de vagas e incentivos às mulheres para ocuparem cargos variados, passando pela assessoria de investimentos, gestão e liderança.
Mônica Junqueira, coaching financeira, explica que em 2014 foi criado o Programa Diversidade em Conselho proveniente de uma ação conjunta entre a B3, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), International Finance Corporation (IFC), Spencer Stuart e WomenCorporateDirectors (WCD) para aumentar a diversidade nos conselhos do Brasil.
“O programa propõe identificar e criar uma rede de mulheres preparadas para atuar em conselhos de administração, conselhos fiscais e comitês de organizações públicas, privadas ou do terceiro setor por meio de troca de experiências, aprendizado e fortalecimento do seu network com apoio de profissionais experientes em conselhos que atuam como mentores”, diz.
Junqueira ainda acredita que a utilização das redes sociais também contribui para que outras mulheres façam parte do segmento. “A mulheres que estão nas mídias explicam como tudo funciona no ambiente do mercado financeiro e investimento, utilizando exemplos corriqueiros do ambiente feminino, gerando empatia e desmistificando o assunto. Pouco a pouco, veremos mais mulheres gerindo seus investimentos”, pondera.
Dados da B3, Bolsa de Valores de São Paulo, indicam que o número de mulheres investidoras chegou a 742 mil em agosto, no final de 2019 eram 388 mil. O número, que é motivo de celebração, representa um avanço de 500% nos últimos dez anos.
“Mais mulheres na bolsa significa que elas estão se estruturando para ter a sua independência financeira, se é que já não têm. Também é um indicativo de redução da desigualdade salarial, mas é importante lembrar que ainda representamos apenas 25% do total de investidores. Temos um longo caminho para percorrer”, conclui Sandler.