O sumiço de dinheiro dos clientes do Nubank levantou a dúvida sobre a segurança dos bancos digitais. O episódio aconteceu no dia 7 de julho quando usuários foram surpreendidos com a ausência de valores na Nuconta e levou a hashtag #nubankdevolvemeudinheiro aos assuntos mais comentados no Twitter.
No dia seguinte, 8 de julho, a empresa utilizou as redes sociais para esclarecer o incidente. De acordo com o Nubank, parte dos clientes que pagou boletos por meio da Caixa Econômica recebeu uma quantia superior ao valor correto em sua Nuconta. Segundo o banco digital, foi uma falha sistêmica da Caixa.
“Assim que fomos informados pela Caixa Econômica Federal sobre a situação, agindo de boa fé, comunicamos nossos clientes sobre o equívoco e, seguindo as recomendações do banco, iniciamos o processo de estorno dos valores excedentes para a Caixa. As devoluções foram suspensas assim que identificamos inconsistências nos dados fornecidos pela Caixa”, afirma o comunicado do Nubank. Veja a declaração completa aqui.
Apesar da situação corrigida, será que é realmente seguro ter conta em bancos online?
Vinicius Durbano, CEO da Eco IT – empresa especializada em segurança digital, diz que os bancos digitais são tão seguros quanto às instituições financeiras convencionais. “Eles precisam seguir regras rígidas do Banco Central do Brasil e passam pelas mesmas auditorias de segurança dos bancos tradicionais”, afirma.
Durbano explica que os bancos digitais possuem suas próprias normas de segurança. “O Nubank, por exemplo, possui uma política de segurança cibernética que tem o objetivo de garantir três pilares fundamentais da proteção: a confidencialidade em que apenas usuários autorizados têm permissão para acessar os dados; a integridade para que as alterações sejam realizadas somente com autorização e a disponilidade que é quando a informação deve ficar acessível aos usuários autorizados quando solicitado. Todo banco digital deve possuir um sistema similar”, explica.
A política mencionada por Durbano é uma exigência do Conselho Monetário Nacional (CMN) do Banco Central (BC), que publicou a Resolução 4.658 com novas normas de segurança cibernética para as instituições financeiras online em abril de 2019.
O documento estabelece que as fintechs devem ter uma política de segurança cibernética e requisitos para a contratação de serviços de processamento, armazenamento de dados e computação em nuvem.
Os bancos digitais podem quebrar?
Com serviços mais baratos ou gratuitos e a possibilidade de resolver tudo pela internet sem precisar enfrentar filas nas agências das instituições financeiras tradicionais, os bancos digitais fazem parte do grupo de fintechs – financial technology ou tecnologia financeira em tradução livre – regulamentadas pelo Banco Central.
O Brasil tem 742 empresas do segmento, indica o levantamento Distrito Fintech Report realizado pela companhia de inovação Distrito. O número representa um aumento de 34,1% na comparação com 2019, quando foi elaborada a primeira pesquisa.
Apesar de ser uma modalidade em ascensão que contribui para aumentar a concorrência no sistema financeiro e oferece serviços mais eficientes, os bancos digitais podem quebrar. Márcio Wu, especialista em administração financeira e professor da FECAP, diz que as instituições menores não contam com toda a solidez financeira de capital que os grandes bancos possuem.
“Além disso, tem a confiança dos correntistas. Isso reflete na remuneração de alguns títulos, como o CDB que esses bancos digitais emitem. Os CDBs dos bancos online são mais altos do que as cinco maiores instituições do Brasil e essa diferença na remuneração está relacionada com a segurança”, afirma.
De acordo com o WU, os rendimentos oferecidos nos bancos digitais são difíceis de encontrar nas instituições tradicionais. “Eles oferecem um título com uma rentabilidade mais atrativa para atrair o cliente e pagar esse risco adicional”, diz.
O especialista salienta que os CDBs (Certificado de Depósito Bancário) e RDBs (Recibos de Depósito Bancário) possuem garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) para ressarcir aplicações de até R$ 250 mil por CPF, mas alerta para a lentidão do pagamento em caso de falência.
“Tivemos recentemente a liquidação extrajudicial da Dacasa Financeira. O processo foi em fevereiro e os clientes começaram a receber em maio, ou seja, eles ficaram sem acesso aos recursos nesse período. Então, eu acho que esse é um ponto a se considerar quando mencionamos o FGC. Mas fora isso, não existe muito risco em termos de perdas financeiras pelo lado do cliente”, pondera.
Cuidados com a segurança digital
Para ampliar um pouco mais a proteção, Denis Riviello, gerente de Cibersegurança da Compugraf, recomenda não acessar os sites ou apps de banco em máquinas públicas ou de estranhos. “Tenha senhas diferentes para cada aplicativo. Sempre utilize o segundo fator de autenticação em seus dispositivos e nunca compartilhe senhas ou credenciais a terceiros”, afirma.
Por fim, jamais escreva ou tire fotos do cartão de crédito porque os dados podem vazar e facilitar a clonagem. “Outra prática muito boa também é usar números de cartão de crédito temporários, que a maioria dos bancos digitais disponibilizam em seus apps”, finaliza Durbano.