A Selic vira assunto nos noticiários e entre os investidores a cada 45 dias. Isso acontece porque o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decide aumentar ou diminuir a taxa básica de juros da economia brasileira. Atualmente, a taxa Selic está em 2,25% ao ano. Mas você sabe o que significa essa taxa? Como o corte ou o aumento dela influenciam a sua vida?
O que é a Selic?
A Selic, taxa básica de juros da economia, é o principal instrumento da política monetária do Brasil e utilizada pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação.
Ela ainda serve como referência para calcular todos os demais juros cobrados no País, como empréstimos, financiamentos e investimentos.
Segundo informações do Banco Central, a Selic refere-se à taxa de juros apurada nos empréstimos entre os bancos utilizando os títulos públicos federais como garantia.
Dessa forma, o BC atua no mercado para que a taxa efetiva esteja de acordo com a meta da Selic – atualmente em 2,25% – definida na reunião do Copom a cada 45 dias.
“O Copom verifica o cenário econômico local e mundial, analisa os índices de performance da indústria, comércio, setor agrícola e assim define a taxa que orienta todas as demais taxas praticadas na economia”, diz Marcelo Cambria, professor de contabilidade e finanças da Faculdade Fipecafi.
Quando o Comitê de Política Monetária altera a meta da Selic, a rentabilidade dos títulos indexados à taxa se modifica e, assim, o custo de captação dos bancos também muda.
Como a taxa Selic afeta a economia?
Na prática, quando a inflação está baixa e não sinaliza aumento, o Banco Central reduz a Selic para aquecer a economia estimulando o consumo da população e facilitando o crédito.
Por outro lado, quando há sinais de alta do IPCA, o BC eleva a taxa básica de juros para esfriar a atividade econômica, conter o consumo e a eventual subida dos preços.
Esse movimento também faz com que as pessoas poupem mais, já que a rentabilidade das aplicações em renda fixa indexadas à Selic é maior.
A crise financeira causada pela pandemia da COVID-19 fez com que os bancos centrais de diversos países reduzissem as taxas de juros das suas respectivas economias para atenuar a retração econômica.
No Brasil, entretanto, a pandemia provocou a redução da jornada e salário ou suspensão do contrato de trabalho de 11,7 milhões de trabalhadores formais, segundo o Ministério da Economia.
Dados da Pnad COVID-19, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que o País está com aproximadamente dois milhões de postos de trabalho a menos.
Entre a primeira semana de maio à segunda semana de junho, o número de brasileiros desempregados aumentou 21%.
Diante desse cenário, mesmo com juros baixos, fica difícil imaginar a economia aquecida e mais pessoas consumindo.
Cambria explica que a Selic entrou em um estágio que ela não tem a efetividade de antigamente, pois atingiu um patamar muito baixo e precisa de outros elementos para que a política monetária seja eficiente.
“Então, hoje, podemos levar a taxa a zero que não veremos um fluxo de investimentos em magnitudes relevantes para gerar empregos a longo prazo porque o empresariado aguarda uma situação mais clara de quais serão os impactos e a nova realidade pós-pandemia. Eles também esperam a reforma tributária e de partidos políticos para que se tenha uma visão melhor dos riscos para abrir ou ampliar um negócio”, argumenta.
Mas se a Selic está caindo, por que o crédito continua caro?
Embora a Selic seja referência para todas as taxas praticadas pelo mercado, não é difícil perceber a grande desproporção entre os juros que os bancos cobram do consumidor ao tomar crédito e das aplicações financeiras.
Enquanto a Selic está em 2,25%, os juros médios do cheque especial estão em 117,1 % ao ano e no crédito pessoal em 80,9%, segundo os dados do Banco Central.
A explicação para os juros elevados está no chamado spread bancário que, basicamente, é a diferença entre as taxas que as instituições financeiras pagam para captar recursos – que são mais próximas à Selic – e as que cobram dos clientes – sempre mais altas que a taxa básica de juros.
Para exemplificar, imagine que o banco pegou dinheiro por meio de um CDB pagando 10% ao ano para o investidor e concedeu empréstimo ao cliente com uma taxa de 25% ao ano. Portanto, o spread bancário dessa operação será de 15 pontos percentuais.
Diversos fatores influenciam esse cenário de juros altíssimos. Para Diego Barbieri, professor de finanças e contabilidade na IBE Conveniada FGV, o principal deles é a falta de concorrência entre os bancos.
“O dinheiro é um produto, é uma mercadoria que também está sujeita a lei da oferta e da demanda. No nosso país, o dinheiro ficou caro, pois a concorrência entre bancos é pouca”.
Outra justificativa para o spread bancário elevado é a inadimplência. Com o risco de não receber o valor disponibilizado, os bancos aumentam as taxas.
A Sondagem do Consumidor de junho, realizada pelo Ibre/FGV, aponta que um terço (33,3%) das famílias brasileiras têm algum membro com dívidas em atraso.
Entre todas as faixas de renda analisadas pelo levantamento, 72,1% dos 1.810 entrevistados que estão ou têm algum parente inadimplente afirmaram que começaram a adiar os pagamentos ou que a situação piorou durante a pandemia.
Já 49,7% das famílias inadimplentes atrasaram entre um e três meses o pagamento de parcelas ou empréstimos.
Com a inadimplência crescendo, Cambria acredita que as instituições financeiras podem aumentar os juros ou dificultar o acesso ao crédito.
“Os bancos como provedores de crédito analisam risco e eles podem solicitar garantias para fazer operações ou aumentar as taxas. É como se fosse um aviso gentil do banco dizendo que não gostaria de emprestar dinheiro, então ele pratica uma taxa alta para não tomar esse risco”, afirma.
Além disso, entram nessa conta as despesas administrativas, custo do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), impostos, entre outros.
Como a Selic impacta os meus investimentos?
A Selic é a base para o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) que é uma taxa utilizada pelos bancos para emprestar dinheiro entre si e que define a rentabilidade de investimentos em renda fixa.
Portanto, se a Selic está baixa, os retornos das aplicações financeiras serão menores.
A baixa rentabilidade pode incentivar investimentos mais arriscados e com retorno superior. Contudo, antes de investir é fundamental conhecer o seu perfil de investidor para escolher aplicações financeiras alinhadas com a sua tolerância ao risco, objetivos, dinheiro disponível e prazo.
Muito esclarecedor! Nunca havia entendido essa matéria e agora ficou bem claro.